Autor: Lorena

  • Sobre cuidar de si e não deixar de acreditar nos próprios sonhos: Isadora Maria conta Sua História

    Sobre cuidar de si e não deixar de acreditar nos próprios sonhos: Isadora Maria conta Sua História

    A história da Isadora Maria Mendes de Souza é contada hoje em grande parte porque, anos atrás, ela se inspirou na trajetória de outra mulher imigrante. Ao ler sobre alguém que havia superado barreiras semelhantes, Isadora percebeu: “Qual a diferença entre eu e ela? Ela não parou de acreditar no próprio sonho.” Hoje, ela busca retribuir essa inspiração, compartilhando sua própria jornada para motivar outras pessoas.

    Atualmente, Isadora é Business Program Manager na Microsoft Corporation e lidera a construção do capítulo brasileiro da ONG The WIT Network com mais de 11,000 membros em 76 países ao redor do mundo. Ela trabalha com programas de mentoria e capacitação, empoderando outras mulheres a conquistarem seus espaços na área. Fora do corporativo, também organiza rodas de conversa usando cacau cerimonial, criando espaços de conexão e desenvolvimento pessoal e inter-religioso, com foco no sagrado feminino.

    Aqui estão 4 perguntas que fizemos para conhecer mais sobre a história da Isadora!

    1. O que te inspirou a deixar o Brasil e vir para os Estados Unidos?

    Minha decisão de morar fora foi uma combinação de fatores que se misturaram ao longo da minha vida. Cresci em Jundiaí, interior de São Paulo. Sempre estudei em escola pública, sem muitos recursos para aprender inglês além do verbo ‘to be’. Ao mesmo tempo, sabia que queria ser independente financeiramente e a tecnologia me trouxe algum tipo de retorno financeiro desde cedo.

    Comecei ajudando as pessoas do meu bairro a resolverem problemas com manutenção e configuração de computadores (TI). Mesmo entendendo que a tecnologia poderia me abrir caminhos, o trajeto não era muito claro para mim.

    Quando estava me preparando para o vestibular, eu considerava várias opções de carreira: psicologia, veterinária, computação, música, artes, direito e estudos literários. Sem ter exatamente uma rede de suporte presente e ativa, eu não sabia exatamente o que queria, mas sabia que precisava encontrar algo que me desse independência financeira e flexibilidade na rotina. A época do cursinho foi um período de pouco sono, muito trabalho, estudo, luto, depressão profunda e extrema ansiedade devido à incerteza. 

    Passei em todas as faculdades públicas para as quais me inscrevi e decidi seguir o curso de Ciência e Tecnologia, que era a opção mais próxima da minha casa, com o intuito de me formar em Engenharia Aeroespacial. Com o tempo, percebi que esse caminho não me daria as oportunidades que eu esperava. Voltei a estudar e passei na UNICAMP em uma das últimas chamadas. Comecei a estudar no famoso “Cursão”, com o intuito de seguir com Matemática Aplicada e Física Médica. Conforme as dificuldades financeiras de me manter em Campinas começaram a pesar e em estado depressivo pelo ano inteiro de 2012, decidi tentar a transferência para a USP em São Carlos. Passei na prova de transferência externa para Ciências da Computação, e finalmente quando pensei que tudo ficaria bem, enfrentei um choque de realidade. Muito mais homens (já com suas panelinhas) do que mulheres. Pouquíssimos alunos entendiam a realidade das pessoas que trabalham enquanto estudam para pagar o aluguel. Várias pessoas da minha turma vinham de escolas técnicas, tinham uma bagagem muito mais forte que a minha, e no geral, todos falavam inglês. 

    Comecei a aplicar para bolsas de estudo, para conseguir estudar inglês de graça e me preparar melhor para o futuro. Arranjei um emprego numa escola de idiomas, e em 2014 fui selecionada para a bolsa de estudos do programa Ciências Sem Fronteiras, quando passei um ano e meio na University of California, Riverside & Irvine.

    Quando consegui essa bolsa de estudos para os Estados Unidos, veio outro choque de realidade. E foi aí que meu sonho de trabalhar criando impacto em escala global, impactando milhões/bilhões de pessoas, realmente começou a acontecer.

    1. Como você chegou até a Microsoft e conquistou o cargo que ocupa hoje?

    Após o Ciências Sem Fronteiras, eu voltei para o Brasil para terminar a faculdade. Nos últimos dias no exterior, recebi uma carta de recomendação, o que afirmou a certeza dentro do meu coração de que eu voltaria pros Estados Unidos. Quando voltei para São Carlos, a falta de uma rede de apoio e suporte financeiro pesava bastante, mas segui em frente, trabalhando como monitora em um laboratório da USP, estagiária de uma startup, garçonete e bartender. 

    No último ano de faculdade, minha rotina estava bem cansativa. Eu estava com depressão profunda novamente, dívidas no cartão de crédito, e decidida que algo precisava mudar.

    O ponto de virada veio quando vi uma aluna da minha faculdade que também tinha dificuldades parecidas, e tinha conseguido um estágio com a AWS nos EUA. Quando li a história dela, eu pensei: “A diferença entre eu e ela? Ela não parou de acreditar nela mesma, no próprio sonho”. 

    Foi então que eu percebi que eu não tinha parado de acreditar. Eu só estava exausta. Mas os meus sonhos e anseios eram válidos, e eu precisava mudar minha estratégia urgentemente. Voltei a cuidar mais de mim, comecei a aplicar novamente para bolsas e consegui uma oportunidade de participar como scholar da Grace Hopper Celebration, um dos maiores eventos globais voltados para mulheres na tecnologia. Lá eu me inscrevi e entrevistei para estágios na Amazon, Facebook e em outras empresas que conheci por lá. 

    Após vários “nãos” nas entrevistas, fui ao estande da Microsoft no terceiro dia de evento, nos últimos 30 minutos da feira. Uma recrutadora olhou meu currículo e me deu um feedback importante: “O currículo está com alguns errinhos, é um modelo bem diferente do que normalmente é submetido para empresas americanas. Mas sua experiência é sólida, o seu inglês é ótimo, e você deve submeter seu currículo dentro dessa caixa. Acredito que, dos 20,000 currículos depositados, uma ou duas pessoas serão selecionadas para conversar com uma vice-presidente da Microsoft. Vai que é você?”. 

    Enquanto colocava meu currículo, a carta de recomendação e meu cartão de visitas com todas minhas informações na caixinha, fiz uma prece mentalmente afirmando e pedindo que todos os caminhos se abrissem.

    Meses após o evento, recebi a grande notícia: Fui uma das selecionadas para a mentoria. Na época, ela me deu uma lição valiosa que ainda hoje eu continuo aplicando e falando para outras pessoas: “Confie em você!”

    Isso me ajudou a passar nas entrevistas e consegui o estágio na Microsoft Corporation, mas quando recebi uma oferta para me tornar ‘full-time’ deles, eu não tinha visto americano de trabalho. Então transferiram minha oferta para a Microsoft Vancouver, no Canadá. Um ano e meio depois, tive a oportunidade de me mudar para os Estados Unidos com o visto L1B. Hoje, como Business Program Manager, lidero o planejamento comercial de programas de negócios e soluções de plataforma e tecnologia para o Microsoft AI Cloud Partner Program. 

    1. Além do seu trabalho na Microsoft, você também está envolvida em causas importantes, como fazer a diferença na conversa sobre igualdade de gênero, através do seu trabalho com a ONG The WIT Network. Pode falar mais sobre isso?

    Eu lidero o capítulo brasileiro da The WIT Network como voluntária, com foco em programas de desenvolvimento de liderança para mulheres e aliados. A The WIT Network é uma iniciativa global que promove a inclusão e o avanço de mulheres na tecnologia. Através do programa, consegui criar uma rede de suporte gratuita para brasileiras que estão buscando emprego na área, conectando pessoas a recursos, oportunidades e projetos. Uma das minhas maiores alegrias como mentora foi poder ajudar diretamente três pessoas a conseguirem empregos. O foco é fortalecer as parcerias entre Estados Unidos e Brasil e maximizar o potencial dos nossos diversos talentos.

    Com o The WIT Network, sou anfitriã do Happy Cacau Hour, um espaço de roda de conversa e mentoria que combina ferramentas de desenvolvimento pessoal com o uso do cacau cerimonial. Após muitos anos enfrentando dificuldades para me curar da depressão e ansiedade, decidi adotar um método mais holístico. Foi assim que, entre tantas terapias, ferramentas e plantas medicinais incríveis, descobri o poder do cacau muito além da alegria de comer uma sobremesa de chocolate. O cacau, em um contexto cerimonial, abre nossos corações e possibilita a auto exploração em um ambiente seguro; no contexto profissional, fortalece a liderança consciente, nos capacitando para manifestar melhorias em nossa realidade externa, começando de dentro pra fora. Também sou facilitadora do treinamento baseado nos livros “Tornando-se ATHENA: Oito Princípios da Liderança Iluminada” de Martha Mayhood Mertz e “Ouse Crescer” de Tara Mohr, o que me proporciona bagagem e treinamento formal para co-criar esse tipo de espaço onde as pessoas se sentem seguras para serem vulneráveis.

    Essas iniciativas me permitem misturar o melhor dos meus mundos. A expansão de consciência com foco em impacto cultural, social e ambiental através do acesso democrático à tecnologia.

    1. O que você recomendaria para mulheres que estão começando a buscar oportunidades no exterior, sobretudo nos Estados Unidos? 

    Manter o inglês afiado, mas sem precisar pedir desculpas se não estiver 100%, porque nem o dos americanos é! No mercado global, a sua gramática e sotaque não importam tanto quanto o que você traz para a empresa como diferencial. Celebre suas diferenças e permita que elas sejam sua fortaleza, não algo para diminuir sua confiança em quem você é.

    Encontre ONGs e faça trabalhos voluntários com impacto claro para agregar ao seu currículo, enquanto trabalha em coisas que você gosta ou causas que você se importa.

    Encontre mentores e aliados – ter pessoas que te apoiam e defendem o seu trabalho faz toda a diferença. É fundamental construir uma rede de confiança com pessoas que valorizam o seu potencial e ajudam a fortalecer a sua marca pessoal. Sem aliados, mesmo o melhor trabalho pode acabar sendo subestimado.

    Finalmente, como em tudo nessa vida, é importante entender que o aprendizado será constante. Revisar constantemente o que foi feito de forma intencional, os resultados e entender se a estratégia precisa mudar. Sempre encontraremos algo novo para melhorar. Grandes realizações externas acontecem quando nos alinhamos internamente. Grandes realizações externas requerem colaboração e senso de coletivo. É preciso ter muita humildade e atenção com o ego. 

    Por isso, o principal conselho que dou é: cuide-se! Tenha paciência com sua jornada de crescimento. Não se compare. Ame-se imperfeita. Aprenda a não estar sempre disponível, mas saiba estar disponível, ajudar e pedir ajuda. Priorize sua saúde mental, cultive o seu jardim todos os dias. E quando algo muito difícil surgir, lembre-se: “Eu não sei o que, mas essa dor/situação está tentando me ensinar”. Tenha hobbies, cante, dance, aprecie toda forma de arte e beleza que a vida nos mostra todos os dias. É preciso saber olhar pra dentro de si para aprender. Essa perspectiva ajuda a transformar desafios em oportunidades de crescimento com resiliência, cultivando paciência com o tempo certo para as coisas acontecerem. Acredite que você merece viver o seu sonho, e jamais se limite pela opinião alheia. Se o sonho é seu, a convicção tem que ser sua!

    Próximos capítulos: 

    A Isadora estará na Microsoft Reactor, no dia 12 de fevereiro em São Paulo, facilitando o terceiro Happy Cacau Hour com The WIT Network com convidados especiais. Vagas limitadas e oferecidas por ordem de inscrição, para participar se inscreva aqui.

    Caso você não tenha o membership do The WIT Network, inscreva-se na opção gratuita – selecione a comunidade “Brazil”.

    Continue acompanhando a história da Isadora através do LinkedIn. E não esqueça de seguir o BRAVE no Instagram e no Substack (newsletter) para ficar por dentro das próximas histórias.

  • Conectando Comunidades Através de Astronomia: Luana Melnek dos Anjos Conta Sua História

    Conectando Comunidades Através de Astronomia: Luana Melnek dos Anjos Conta Sua História

    Natural de Itajaí, Santa Catarina, Luana Melnek dos Anjos sempre teve um forte desejo de explorar o mundo, uma curiosidade que vem de sua ancestralidade familiar navegando a complexidade de uma identidade cultural rica, marcada pela ancestralidade indígenas e afrodescendentes de seu pai e judaico-eslavas de sua mãe.

    A busca por um entendimento mais profundo de quem realmente era ganhou mais clareza após sua mudança para os Estados Unidos. Essa jornada de autodescoberta transformou sua identidade pessoal e trouxe uma nova perspectiva para seu trabalho na área de astronomia. Com uma abordagem inclusiva e consciente, Luana encontrou formas significativas de conectar ciência e cultura, integrando suas experiências pessoais à prática profissional. Ela foi a primeira brasileira a apresentar shows no planetário do Morrison Planetarium, na California Academy of Sciences, e a primeira estudante de bacharel internacional contratada pela instituição.

    Como Tudo (Re)começou

    Após quase quatro anos em Recursos Humanos no SESI e em projetos sociais no Brasil, Luana embarcou para os Estados Unidos como Au Pair. Durante a mudança e até hoje, o apoio de sua família no Brasil tem sido fundamental. Mesmo à distância, eles continuam sendo uma fonte constante de resiliência e encorajamento. Essa ligação com suas raízes familiares também inspira Luana a incorporar valores de pertencimento e coletividade em todas as suas iniciativas.

    Luana e parte da família no Brasil
    Luana e parte da família no Brasil

    Inicialmente se estabelecendo em Milwaukee, Wisconsin, Luana conta que sua experiência como Au Pair “foi uma fundação incrível, proporcionando exposição à cultura americana e ajudando no desenvolvimento do idioma”, conta Luana. No segundo ano, mudou-se para a Bay Area, onde reside até hoje.

    Luana se envolveu profundamente no ativismo em comunidades indígenas. No City College of San Francisco, trabalhou em iniciativas sociais e acadêmicas, atuando como Student Vice Chancellor. “Minha conexão com comunidades indígenas e experiências nos cinco anos no City College resultaram em mudanças significativas, aprofundando meu entendimento sobre pertencimento e coletividade, especialmente em relação à minha vivência como uma pessoa queer e Latinx.”

    A Descoberta da Astronomia e a Cosmologia Indígena

    Foi em uma aula de astronomia que Luana começou a entender a ciência de forma diferente, especialmente por meio da cosmologia indígena. Ela aprendeu que o universo pode ser percebido como algo vivo e interconectado. Durante a pandemia, Luana se dedicou aos estudos online na área de astronomia, foi quando também começou a traduzir apresentações do planetário do City College para espanhol e português. 

    “Explorar conteúdos científicos me fez filosofar sobre o significado de espiritualidade e pertencimento. Aprender sobre a linguagem científica me ajudou a divulgar ciência no México e Brasil traduzindo o show do Planetário do City College of San Francisco durante a pandemia.”, compartilha Luana. 

    A partir daí, mudou o seu major de filosofia e sociologia para astrofísica, agora na San Francisco State University, onde irá se graduar com bacharel em Física com concentração em Astronomia. Em seguida, começou a trabalhar no Morrison Planetarium, na California Academy of Sciences, onde atuou por quase dois anos. Luana fez história ao se tornar a primeira brasileira a apresentar shows no planetário, interagindo com audiências de aproximadamente 300 pessoas por show, e se tornou a primeira estudante de bacharelado internacional contratada pela California Academy of Sciences.

    Popularizando a Astronomia e Conectando Ciência com Cultura

    Com uma abordagem acessível, Luana conta que o público do planetário sempre ficava bem à vontade para fazer perguntas sobre suas apresentações, O motivo? “Acredito que muito se deve ao fato da minha comunicação ter sido influenciada pela filosofia indígena, buscando dividir o conhecimento científico de forma inclusiva e culturalmente consciente.” Observando a necessidade de um espaço para responder dúvidas comuns de visitantes da Cal Academy of Sciences, nasceu o projeto IntersectionalCientista. Luana criou uma biblioteca de conteúdos online, através do Instagram e Facebook, incluindo vídeos que abordam perguntas sobre astronomia. Sua prática reflete uma abordagem única, incorporando elementos do butoh japonês – uma forma de dança experimental – que encontrou ao integrar sua prática de mindfulness durante sua transição para astrofísica.

    Além de tornar a pesquisa científica e prática mindfulness mais acessível e levar sua abordagem a lugares inesperados, como parques, galerias de arte e até mesmo telhados de casas em São Francisco, Luana também é embaixadora do eclipse solar da NASA, participando de iniciativas de divulgação para celebrar o Ano do Sol da NASA, que começou em outubro de 2023 e se estenderá até dezembro de 2024. Essas experiências ajudaram a conectar a ciência à comunidade de forma significativa, revelando o potencial da astronomia para criar laços entre culturas.

    Próximos Capítulos

    Acompanhe os próximos capítulos da história de Luana e descubra mais sobre seu trabalho no IntersectionalCientista, onde você encontrará links para acompanhá-la em várias plataformas.