Foto Tatiana Dutra e MelloBuscamos sempre compartilhar histórias de Brasileiras talentosas que estão fazendo a diferença aqui na Bay Area e nos EUA. Tatiana Dutra e Melo é do Rio de Janeiro, designer e uma das coordenadoras do Projeto Contadores de Estórias, que acontece na Bay Area. Apaixonada pelo projeto e pelo desafio de manter a identidade cultural dos brasileirinhos do Vale, ela conta aqui um pouco de seus sonhos, desafios e trajetória.


Como era sua vida no Brasil?

Nunca gostei da desigualdade econômica, do preconceito racial e social e dos políticos cheios de promessas do Brasil, mas levava uma vida relativamente confortável. Tinha casa, comida, roupa lavada e minha própria empresa com uma sócia que por acaso era (ainda é) uma amiga querida. O Brasil, na minha cabeça, era díficil, mas não intolerável. Hoje em dia ainda amo o Brasil, e mais ainda as pessoas que deixei lá, mas cheguei a conclusão de que a vida lá está mais complicada do que quando saí de lá, infelizmente.

O que levou a sua mudança para os EUA e quando foi?

Cheguei nos EUA em 2001 por causa do trabalho de meu marido, após viver no Canadá por seis anos.

Quais foram as suas primeiras impressões sobre os EUA?

Gostei da diversidade cultural do país—já tinha visto algo semelhante no Canadá—mas aqui há uma abundância de grupos populacionais, de paisagens, de pontos de vista—achei tudo fascinante.

O que você gostaria que você soubesse antes de se mudar?

Que o tempo passa mesmo, e que é importante aproveitar cada minuto da vida. No Brasil eu tinha isso como princípio, mas a falta de perspectiva me fazia pensar que no fundo não fazia muita diferença fazer algo hoje ou amanhã.

Quais foram os seus maiores desafios?

Entender a cultura e os hábitos locais, a logística das coisas, como fazer para iniciar uma rotina de vida… Enfim, aprender a ter uma vida com algum controle, e acreditar que o governo vai te respeitar, que você tem direitos e desafios e que precisa fazer sua parte sim.

O que você aprendeu com essa experiência?

Aprendi que tenho medo de poucas coisas na vida e que sou forte para recomeçar toda vez que for necessário. E mais: que de vez em quando é bom mesmo dar uma baita mudada!

Você teve algum mentor? Alguém te inspirou e orientou?

Ninguém em especial…e muita gente em geral! Aprendemos com cada pessoa nova que conhecemos, com cada situação que vivemos, com cada mudança…fico muito atenta a tudo e a todos… Acho que como imigrantes somos mais atentos até por uma questão de sobrevivência…pelo menos comigo é assim, tento aprender com tudo. Além dessa observação constante do que está ao meu redor aprendi também a olhar para dentro de mim mesma com mais frequência e a me “ouvir”, a seguir mais as minhas intuições.

Você tem alguma história, algum exemplo memorável, algum fato marcante nessa sua jornada nos EUA?

Os exemplos são quase que diários. Já tive ajuda de quem mal conhecia, fiz amizades com pessoas bacanérrimas, tenho vivido experiências enriquecedoras. Enfim, tenho aprendido muito! A experiência de viver fora e conhecer outras culturas é algo que todo ser humano deveria poder experimentar.

Conte um pouco do “Projeto Contadores de Histórias”

Eu tinha mudado recentemente para a Bay Area e vi no jornalzinho da comunidade brasileira o anúncio do Contadores. Minha filha tinha na época três anos, e eu estava tentando consolidar o português dela para que não se tornasse uma língua fraca. Fomos ao nosso primeiro evento em Berkeley em outubro de 2005 e adoramos. A coordenadora do Projeto, Suzanne Brito, – vice-cônsul do Consulado do Brasil em San Francisco – fazia um trabalho maravilhoso que engajava adultos e crianças a cada evento. Era uma diversão só. Ao final daquela primeira tarde em Berkeley me ofereci como voluntária, comecei a colaborar, e o resto é história! Atualmente coordeno o Projeto com Ronaldo Penner e temos um grupo de colaboradores que ajuda tremendamente!

O Projeto Contadores de Estórias começou em 2003 por iniciativa da vice-cônsul Ligia Verdi, que queria criar eventos culturais em português para as crianças da Bay Area. Ao longo de sua história o PCE passou por vários locais e teve diversos membros/diretores membros da comunidade brasileira na Bay Area – e sempre teve o mesmo foco em língua e cultura para os brasileirinhos. Desde o início de sua criação os eventos do Contadores seguem um programa bem definido: lemos estórias para as crianças, dançamos, cantamos, pintamos, colorimos…sempre em português, sempre com foco em temas bem brasileiros (Descobrimento do Brasil, carnaval, Dia da Páscoa, festa junina, etc).

Nossa festa junina, por exemplo, é famosa e é para a família inteira. Tem casamento na roça, quadrilha, comidinhas brasileiras, brincadeiras…é sempre uma diversão! Já na Páscoa, recebemos a visita do coelhinho da Páscoa…até ele vem para participar do Contadores!

Como você acha que o Contadores influencia a educação e a absorção da cultura brasileira das crianças no Vale?

Iniciativas como as do projeto Contadores ajudam a dar a nossas crianças um pouco da dimensão da cultura e língua do Brasil. Crianças imigrantes merecem ter contato com suas raízes e ter orgulho de sua história. Os brasileiros, em geral, são calorosos e apreciam o convívio social.

Nossas crianças, ao conviverem com outros brasileiros pequenos e adultos aprendem que somos muitos espalhados pelo mundo e que podemos conviver de forma harmoniosa.

O PCE é uma forma de construirmos nossa comunidade aos poucos, de baixo para cima, com perseverança e disposição para passar para as gerações futuras o lado muito bom do que é ser brasileiro.

Como as pessoas interessadas podem organizar um Contadores em sua área?

Além do nosso Projeto Contadores de Estórias original daqui da Bay Area temos outros Contadores de Estórias em Nova Iorque, na Flórida e no norte da Califórnia. Interessados em iniciar novos programas devem entrar em contato conosco através do email web@contadores-de-estorias.org.

Como as pessoas podem ajudar o projeto?

Somos todos voluntários e organizamos o Contadores com carinho e dedicação – sem nenhuma compensação financeira. Precisamos sempre de voluntários durante os eventos para ajudar nas atividades. E quem quiser se juntar ao nosso Projeto CE como voluntário permanente é bem-vindo também, claro!

Qual a sua dica pra quem está começando a trilhar esse mesmo caminho de criar um projeto?

Defina seus objetivos claramente e pesquise seu público antes de mais nada. É importante ter certeza de que seus eventos terão massa crítica, e de que seu programa atenderá as expectativas do público.

Quais são os seus planos para o futuro?

Dar continuidade ao Projeto Contadores, trazer mais Brasil para os brasileirinhos daqui, ouvir e ler mais estórias, conversar em português, manter nossa língua e culturas vivas entre os membros da comunidade ‘brasuca’ na Bay Area!!! Muito obrigada Brasileiras do Vale pela oportunidade de contar para vocês sobre um pouco do que fazemos no Contadores!

Participe do próximo Contadores de Estórias!

E conheça mais sobre o Projeto Contadores de Histórias:
https://www.facebook.com/contadoresdehistoriasUSA/