Andrea Litto – BRAVE Sua História

Andrea LittoA paulistana Andrea Litto veio para os Estados Unidos nos anos 90 cursar o High School e acabou descobrindo que aqui era o seu lugar. Ela fez o caminho inverso do seu pai, um americano que casou com uma brasileira e acabou se apaixonando pelo Brasil, onde mora até hoje. O pai de Andrea, Fredric Litto, levou para o Brasil o conceito da adoção de tecnologias da informação na aprendizagem. Criou a Escola do Futuro, da USP, onde foi professor emérito, e hoje preside a Associação Brasileira de Ensino à Distância (ABED). Já Andrea, agora casada com um americano, criou a SiliconHouse, onde usa o network que desenvolveu ao longo dos seus mais de 20 anos morando na Bay Area para ajudar empreendedores, principalmente brasileiros, a mergulharem na cultura do Vale do Silício e levarem adiante seus projetos. Andrea também é uma das conselheiras do BRAVE. Na conversa a seguir, ela conta como esse projeto nasceu e cresceu.

 

Por que você decidiu mudar para os EUA?

Eu nasci no Brasil, mas meu pai é americano. Em 1992, quando tinha 16 anos, vim fazer o High School aqui, fiquei em Cupertino, na casa de uma tia. Voltei pra São Paulo, prestei vestibular para Pedagogia, fiz duas semanas de curso na PUC e vi que não era pra mim. Eu queria voltar pra cá. Sabia que meu lugar era aqui. No primeiro ano do meu retorno, em 1995, estudei fotografia. Depois fiz culinária. Fui descobrindo que meu universo é muito mais artístico do que acadêmico.

 

Você acabou trabalhando nessa área?

Sim, eu comecei a trabalhar como personal chef. E na verdade isso abriu as portas para o que eu faço hoje na SiliconHouse. Trabalhei como personal chef na casa de alguns executivos de fundos de venture capital, conheci muita gente desse meio e dessa forma comecei a montar minha rede de contatos aqui. O passo seguinte foi abrir minha própria empresa de catering, a Tailored Cuisine. Fui dando assim meus primeiros passos como empreendedora. Mas, naquela época, final dos anos 90, início dos anos 2000, a palavra empreendedorismo não estava na moda como hoje e eu nem tinha ideia do que era isso.

 

E como você migrou do mundo da culinária para o de inovação e startups?

Eu estava cansada de só fazer festas e eventos, sentia que não estava aprendendo muito. Começou a surgir essa coisa de empreendedorismo e me identifiquei. Cada vez mais brasileiros vinham pra cá e frequentemente eu promovia jantares em casa para receber essas pessoas, muitas vezes que eu nem conhecia, eram amigos de amigos, para introduzi-las ao Vale, apresentá-las a outras pessoas. Tudo foi convergindo. Eu sou tímida e esses encontros eram uma grande oportunidade de aprendizado pra mim também. Gostei muito disso. Chegou a um ponto que tinha jantares em casa quase todo dia. Vi que havia uma oportunidade de negócios aí.

 

Foi assim que nasceu a SiliconHouse?

Sim, foi em 2012, com outros dois sócios que hoje não estão mais comigo, mas que foram fundamentais para tornar esse projeto realidade. Eu achava que nunca seria capaz de tocar um negócio sozinha e eles me ajudaram muito. Eram brasileiros também – um com um perfil bem voltado para negócio e uma jornalista. Na ocasião, eu morava em Mountain View e alugamos uma casa do lado da minha. Recebíamos empreendedores do mundo todo, não apenas brasileiros, que ficavam hospedados lá por 21 dias. Eram grupos de até dez pessoas. A gente montava um programa específico para as necessidades de cada grupo, de cada empreendedor. Palestras sobre a história do Vale do Silício, as principais tendências, conversas com advogados especializados em abertura de startups e registro de patentes, mentores, investidores, potenciais parceiros, outros empreendedores que poderiam ter a ver com o negócio de cada um. Vi startups se juntarem e darem origem a uma nova empresa. Foi mágico, super rico ver essas pessoas interagindo. Mas depois de um tempo nos deparamos com o dilema da falta de dinheiro dos empreendedores para bancar esse programa de imersão.

 

O que vocês fizeram então?

Mais uma vez convergiram uma série de fatores. A casa que alugávamos foi vendida, passamos a ser procurados por entidades como Senac e Sebrae para montar programas mais curtos, de cinco dias, para executivos. Muitas vezes grandes empresas trazem clientes e os próprios funcionários responsáveis pela área de inovação. Esses profissionais geralmente preferem ficar em hotel. Hoje, esse modelo de cinco dias é o preferido dos grupos que atendemos. Os programas são sempre customizados para o perfil dos participantes. E os encontros continuam sendo na minha casa, em San Jose, onde moro agora.

 

E quais os planos para o futuro?

Eu gosto do modelo atual, mas o meu coração ainda está no programa de 21 dias com os empreendedores, onde vi muitos frutos serem gerados. Minha meta é ter um fundo financiado por empresas capaz de bancar a vinda de empreendedores talentosos, com grandes ideias, mas sem condições financeiras de viajar para o Vale do Silício. Quero também trazer mais mulheres. Já estou trabalhando nisso. No último ano, consegui trazer duas startups que vieram bancadas por uma grande empresa que tem interesse no que elas estão desenvolvendo. Num dos casos, foi uma conexão que eu consegui fazer entre uma empresa que já tinha vindo pra cá e uma startup que queria muito vir, mas não tinha condições. Eu percebi que as duas tinham muito a ver e as coloquei em contato.

 

Em toda essa caminhada, você enfrentou alguma dificuldade por ser mulher ou por ser brasileira?

Mais por ser mulher do que por ser brasileira, pois ajuda o fato de estar aqui há mais de 20 anos. Mas como o universo empresarial ainda é muito masculino, tive que provar que a SiliconHouse não é a minha casa de bonecas. Esse na verdade é um trabalho constante.

 

Você se sente realizada tanto financeiramente como intelectualmente com o trabalho que faz hoje?

Financeiramente ainda não, ainda dedico muito tempo para a prospecção dos participantes. Mas eu considero que tudo o que eu tenho aprendido me coloca numa trajetória muito boa para o futuro, acredito que ainda tem muitas coisas boas que vão acontecer.

 

O seu marido e até mesmo o seu filho de 12 anos participam dos programas da SiliconHouse. Como isso aconteceu?

Foi bem natural. Na verdade essa atmosfera de inovação e empreendedorismo é muito presente na nossa casa. Meu marido já criou mais de uma startup que acabou sendo vendida, ele começou a programar quanto tinha 9 anos, hoje é consultor na área de tecnologia. Ele é mentor da SiliconHouse e me ajuda a elaborar a parte de inovação dos programas. O meu filho cresceu nesse ambiente, sempre com gente em casa, e um dia, há uns dois anos, pediu meu computador emprestado dizendo que queria fazer um powerpoint sobre a startup dele. Ele fez em 15 minutos e batizou a startup de Robot Perl, que era o nome do nosso cachorro na época. É uma empresa de cachorros robôs que servem como cão-guia para pessoas com deficiência visual. A ideia dele é que a parte dos olhos dos robôs use a tecnologia de realidade aumentada. Sempre que temos grupos em casa ele pede pra apresentar a startup dele. E as pessoas curtem. Ele também já absorveu uma das características da cultura do vale que é a de retribuir, o chamado “give back”. Num trabalho que fez pra escola, ele escreveu que queria usar o dinheiro que tem guardado para investir em criptomoedas e aí juntar tudo e doar para organizações como a Kiva, uma ONG que oferece microcrédito a pequenos negócios com poucos recursos. Eu confesso que fiquei muito feliz.

 

Por |2024-06-15T20:27:27+00:0018 de outubro de 2018|Sua História|

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