Autor: Equipe BRAVE

  • Mercado de Trabalho: Biotecnologia

    Mercado de Trabalho: Biotecnologia

    Por Desyree Jesus

     

    A Bay area é o berço da biotecnologia. A todo o tempo surgem empresas tentando inovar como tratamos ou diagnosticamos câncer, doenças genéticas, doenças degenerativas, entre outras. Trabalhar em uma dessas empresas é altamente recompensador porque você sabe que seu trabalho terá um impacto importante na sociedade.

    Uma boa definição pode ser encontrada na Wikipedia: “uso de organismos vivos ou parte deles, para a produção de bens e serviços”. Esses serviços podem ser na área de saúde, agricultura, cosméticos, meio ambiente e industrial.

    Apesar da pesquisa ser o foco principal dessa indústria, não se constrói uma empresa de biotecnologia sem outros profissionais. Portanto, além de biólogos, biomédicos, médicos, engenheiros, agrônomos, veterinários e farmacêuticos, pessoas com formação em recursos humanos, contabilidade, marketing também são importantes. Muitas pessoas que entram na área de biotecnologia possuem pós-graduação, mas apenas a graduação é suficiente para certas vagas.

    As principais diferenças entre um pós-graduado e um graduado são quão rápido você será promovido e até onde é possível crescer na carreira.

    Quando o mercado de trabalho atrai tanta gente competente, aprender como se apresentar para essas empresas é fundamental. Um futuro empregado precisa se promover para mostrar que ele é a melhor pessoa para o trabalho. Essa auto promoção envolve, além de suas habilidades técnicas, sua capacidade de prosperar e mostrar resultados.

    O primeiro passo é ter um resume que mostre suas habilidades relevantes para a vaga que você está interessada. Habilidades menos técnicas, como comunicação, trabalho em grupo, interpretação de dados, interação com consumidores etc, também devem estar presentes no currículo. É importante que você tenha pelo menos 50% das habilidades requeridas para aquela vaga (mas claro que quanto mais melhor!). E o resume deve descrever suas habilidades de maneira a mostrar os resultados que você obteve e não só uma lista do que você sabe fazer.

    Existem vários recursos que auxiliam na preparação um bom resume, mas o melhor que você pode fazer pela sua carreira é conversar com pessoas da área, porque elas sabem melhor o que se espera de um candidato. E é aí que entra a parte mais importante de se conseguir emprego em uma empresa de biotecnologia: networking. O mundo da biotecnologia é pequeno, todo mundo conhece todo mundo. E é através desse conhecimento que a maioria das vagas são preenchidas. Algumas delas são preenchidas mesmo antes de serem postadas! Eu consegui meu emprego atual através de uma amiga na Flórida que sabia de uma empresa aqui na Bay area que estava procurando alguém com o meu perfil.

    Networking é geralmente uma palavra que traz ansiedade, mas é ainda mais importante do que ter um currículo perfeito. Além de conversar com amigos e família, você também precisa se comunicar com pessoas que trabalham na mesma área or empresa(s) que você tem interesse porque são elas que irão te dar as melhores dicas de como preparar seu resume, quais habilidades são as mais importantes de serem ressaltadas durante a entrevista, como é o dia a dia de um empregado nessa posição…

    A melhor maneira de começar networking é usando LinkedIn (em biotecnologia, ter um perfil no LinkedIn é mandatório! Muitos recrutadores utilizam LinkedIn para encontrar candidatos). Através do LinkedIn é possível buscar pessoas que trabalham na área que você tem interesse e iniciar uma conversa. Além do LinkedIn, participar de eventos de networking também é importante (meetup.com é um ótimo recurso para encontrar esses eventos).

    Outra coisa bem importante é saber quais são seus “transferable skills”. Transferable skills são habilidades que você utiliza em uma área da sua vida, mas que podem ser aplicadas em outra área. Por exemplo, se você é parte de um grupo de mães e é a responsável por organizar como e quando um evento será realizado, seu transferable skill é gestão de projetos. Se você é a presidente do grupo, seu transferable skill é liderança. Se você trabalha com vendas, seu transferable skill é comunicação com consumidores.

    A última parte do processo é, claro, a entrevista. E nesse caso, também se tem muito a aprender: que perguntas poderão ser feitas. Por exemplo, perguntas de comportamento ou “behavioral questions” são as mais difíceis de serem respondidas, mas as mais importantes em muitos casos). Você deve pensar também em quais perguntas você fará ao entrevistador. Afinal, você não está apenas sendo entrevistado. Você também está entrevistando para saber se o emprego e a empresa são ideias para você. Preparação é a palavra-chave.

    Se você ainda não tem autorização para trabalhar nos EUA e quer se preparar para entrar na área de biotecnologia comece com networking, assim, quando a hora de procurar emprego chegar, você já terá uma rede de pessoas que podem te dar um “referral” . Claro que é possível conseguir emprego sem referral, mas é bem mais difícil porque seu resume irá passar por um software de triagem. Com um referral, seu resume vai direto para o seu futuro chefe!

    Tudo parece complicado no início, mas com o tempo você aprende o que é certo e errado. Durante esse período de aprendizagem é importante ter acesso a duas coisas: alguém que saiba o caminho das pedras e pessoas que te suportem durante a fase de rejeições. Mas todo esse empenho valerá a pena quando você conseguir alcançar seu objetivo.


    Desyree Jesus veio do Rio de Janeiro para os EUA para continuar seu treinamento como cientista. Depois de morar 3 anos e meio na Flórida, veio com o marido para a Bay area. Aqui ela decidiu que gostaria de trabalhar com biotecnologia, usando seu conhecimento em pesquisa para ajudar a encontrar curas para doenças. Além disso, ela participa de um grupo para auxiliar cientistas que querem sair da universidade e entrar na indústria de biotecnologia. Desyree gosta de passar seu tempo livre com o marido, seja indo a restaurantes, hiking ou assistindo filmes no conforto da sua casa. Ler é um dos seus passatempos favoritos. Desyree também pratica yoga e faz aulas de ballet.
  • Brazilian Breads e KIVA: deu samba! – História da Delvira

    Quando aprendeu a cozinhar, aos 13 anos, Delvira Rodrigues se apaixonou. Naquela cozinha aconchegante, cheirando a biscoito de polvilho e pão de queijo, ela só queria saber de absorver os conhecimentos culinários que a mãe e as tias tinham acumulado ao longo da vida. Ali nascia a vontade de passar o maior tempo possível entre panelas e ingredientes, mas ela nem poderia imaginar que, anos mais tarde, se veria em um outro país, tocando sua empresa de quitutes brasileiros, a Brazilian Breads, e tendo de lidar com as delícias e os desafios de ver seu sonho de criança se tornar realidade.

    Em meados de Abril deste ano, Delvira comemorou mais uma etapa vencida: a conquista do primeiro financiamento concedido à sua empresa. O dinheiro – que já está sendo investido na compra de novos equipamentos, no treinamento de mais um integrante para a equipe e na confecção de uniformes – não veio por meio de um banco, mas da Kiva, uma organização sem fins lucrativos localizada em São Francisco. A plataforma permite que pessoas como eu e você apoiem o desenvolvimento de pequenos negócios, investindo a partir de US$ 25.

    “Muita gente nunca tinha ouvido falar desse tipo de alternativa. Mas, uma vez que elas tinham acesso à informação e entendiam como tudo funcionava, se mobilizavam para ajudar. É uma coisa muito bonita, muito poderosa ver o outro apoiando a realização do seu projeto. Teve gente que, mesmo não podendo contribuir financeiramente, fez questão de ajudar na divulgação da campanha, trazendo outros apoiadores. Por tudo isso serei eternamente grata”, compartilha Delvira.

    Portas que se fecham, janelas que se abrem
    Com participação de investidores americanos e brasileiros, a campanha de financiamento da Brazilian Breads na Kiva atingiu seu valor-alvo uma semana antes do prazo final. A alegria de Delvira ao falar sobre a experiência é evidente. Especialmente quando relembra as dificuldades que enfrentou quando, depois de dois anos de trabalho duro vendendo quitutes brasileiros em feiras e festivais, decidiu que era a hora de investir em um ponto fixo para seu business.

    Ela encontrou um local perfeito em Berkeley, mas que precisava de uns ajustes. Todas as economias que tinha acabaram sendo investidas na reforma e ela percebeu que teria de buscar financiamento para colocar o café para funcionar. Respirou fundo e começou a ir aos bancos com seu Business Plan em mãos.

    Delvira perdeu a conta de quantos visitou e das vezes em que, sentada de frente para o gerente, ouviu a mesma palavra: não. Embora o business fosse formalizado e tivesse todas as licenças exigidas, seu fluxo de caixa não parecia muito atrativo para os bancos.

    Quando já estava prestes a partir para o plano B (deixar o empréstimo empresarial de lado e aceitar um pessoal), surgiu uma opção que ela nem imaginava que existisse. Na época, Delvira estava frequentando um curso de Food Business e Empreendedorismo no Small Business Development Center (SBDC) e compartilhou com sua orientadora a resistência que estava encontrando ao buscar financiamento. “Você já ouviu falar da Kiva?”, a orientadora perguntou.

    Ação e reação
    Não, ela não tinha ouvido. Mas foi logo tratando de pesquisar e descobrir. Uma série de fatores chamaram sua atenção: o empreendedor não paga juros; tem um prazo confortável de 36 meses para quitar o empréstimo; e, assim que atinge o objetivo de sua campanha, recebe o dinheiro em poucos dias, sem complicação, via PayPal.

    No site da Kiva, ela encontrou o formulário para iniciar o processo de candidatura. Preencheu tudo, enviou e esperou ansiosa pelo retorno, que veio em alguns dias. Pronto, seu projeto tinha sido aprovado e ela poderia começar a Fase 1 da campanha de financiamento: encontrar 25 familiares ou amigos que se dispusessem a ser os primeiros investidores. Não foi difícil contagiar a família: o objetivo foi cumprido em uma semana. Era hora de partir para a segunda e última etapa: a campanha pública.

    Embora tenha sentido um friozinho na barriga porque essa fase dependeria de “pedir ajuda” a desconhecidos, Delvira decidiu encarar de frente e começou sua divulgação nas redes sociais. A informação foi se espalhando e ela percebeu que a resposta positiva era muito maior do que ela poderia imaginar.

    “Uma coisa que aprendi com esse financiamento foi que, uma vez que você tem a coragem de pedir ajuda, vai descobrir que muita gente está disposta a ajudar. Posso citar o exemplo do apoio que recebi do BRAVE na divulgação. Quando as meninas fizeram contato comigo, estava com 70% da meta atingidos, mas já batia uma insegurança de não chegar aos 100%. Só que depois da publicação do post no blog, muitas integrantes do grupo me procuraram para saber mais sobre o projeto e senti que a onda de apoio se fortaleceu. No final, a meta foi atingida com uma semana de antecedência!”, conta.

    Apoio mútuoHoje, Delvira diz que a experiência não apenas serviu para impulsionar seu negócio, mas para mudar sua percepção de mundo. Ela também se transformou em investidora em projetos que estão na Kiva e acredita que, apoiando pequenos negócios locais, sua empresa só tem a ganhar. “Ao dar suporte a esses projetos, estamos apostando no desenvolvimento da nossa região. E esse crescimento beneficia tudo e todos que estão ao redor”, acredita.

    Seu sonho para os próximos anos é abrir outras unidades do Brazilian Breads pela Bay Area. “Dando um passo de cada vez, trabalhando muito e aprendendo com as experiências”, pondera. Ela também espera ver cada vez mais negócios de brasileiras florescendo na região.

    “Vejo tanta gente talentosa na nossa comunidade, mas são poucas que decidem abrir uma empresa. Talvez pelo mesmo motivo que me segurou por um tempo: como imigrantes, nos sentimos um pouco acanhados, com medo de nos arriscar em um país com leis diferentes das que conhecemos. Mas a realidade é que imigrantes de outros países chegam aqui nas mesmas circunstâncias, abrem seus negócios e prosperam com serviços e produtos bem menos atrativos que os nossos. Acho que o que nos falta nessa área é só uma dose extra de autoconfiança. E apoio mútuo. Com nosso talento e o suporte da comunidade, vamos longe!”

    Kiva pra quê?
    Financiar seu projeto
    • Se você tem uma empresa legalizada e precisa de dinheiro para incrementar o negócio, pode se candidatar a um empréstimo pela plataforma.
    • Sua candidatura começa com o preenchimento de um formulário online, no qual você vai informar os dados da sua empresa, dizer o valor que pretende arrecadar e detalhar como vai usar o dinheiro.
    • Se sua candidatura for aprovada, começa a sua campanha na plataforma. Ela é composta de uma fase privada (amigos e parentes contribuem) e fase pública (qualquer pessoa pode investir).
    • Uma vez que você atinge sua meta e a campanha termina, a transferência de dinheiro é feita por meio do PayPal.
    • Você tem 36 meses para pagar o empréstimo, sem juros.

    Ajudar projetos de outras pessoas
    • Você pode fazer doações diretas que vão de US$ 25 até US$ 200.
    • A quantia que você investiu retorna para você em até 36 meses.
    • Depois que o dinheiro que você emprestou retorna, você pode optar por reinvestir esse dinheiro na rede ou sacar.
    • É importante ter em mente que qualquer empréstimo está baseado no compromisso de quem toma o empréstimo de honrar a dívida depois de algum tempo. Por isso, sempre existe um certo nível de risco nesse tipo de operação. A taxa de pagamento de empréstimo da Kiva, no entanto, é bem alta: 97%.
    • A Kiva é uma organização internacional, portanto, você pode apoiar projetos no mundo todo.
    • O que você ganha com isso? A chance de ver mais pequenos empreendedores prosperando e fazendo sua comunidade crescer junto!

    Saiba mais:
    Kiva – www.kiva.org
    Braziliam Breads – www.brazilianbreads.com

     

  • Carmela Dantas Barbosa Tricaud

    Carmela Dantas Barbosa Tricaud

     

    Mineira, goiana, candanga. É assim que se define Carmela Dantas Barbosa Tricaud, que em janeiro de 2015 se mudou para a Bay Area, após sete anos na França. “Nasci em Minas, fui criada em Goiânia e morei 12 anos em Brasília. E minha mãe é paraibana. Também possuo a nacionalidade francesa. Eu não sei dizer de onde sou”, diz essa bióloga de 47 anos casada com um francês e mãe de três filhos.

    Carmela nunca tinha pensado em se mudar para os EUA, mas acabou vindo pra cá devido ao trabalho do marido, funcionário de uma empresa de tecnologia e que sonhava em viver no Vale do Silício. E aqui ela também conseguiu se reinserir no mercado de trabalho, na área em que sempre atuou: pesquisa de novos medicamentos para a cura do câncer.

    Uma de suas dicas para as brasileiras que buscam retomar a carreira nos EUA é “olhar para fora do quadrado”. “Talvez você não encontre um emprego na sua profissão original, mas encontre em áreas relacionadas. E na Bay Area existe todo tipo de empresa, é uma das principais vantagens da região”, diz.

     

    Por que você se mudou para os Estados Unidos?

    Eu nunca tinha pensado em vir para os EUA. A mudança pra cá se deu em função do meu marido. Eu morava na França há sete anos, fazendo pós-doutorado, me casei com um francês, e ele, que trabalha na área de informática, sonhava em vir pro Vale do Silício. Ele começou a trabalhar em uma empresa americana e recebeu a proposta da transferência. Eu estava de licença maternidade, meu filho tinha quatro meses. Avaliei que para mim também seria uma boa oportunidade. Eu trabalho com pesquisa sobre câncer e poderia atuar no setor privado. Chegamos em janeiro de 2015.

    Foi fácil para você se recolocar?

    Eu já cheguei com visto de trabalho, o que sem dúvida foi fundamental. Meu marido veio com o visto L-1 e eu com o L-2, para dependentes, que me deu direito a solicitar a autorização para trabalhar legalmente aqui. Logo fui chamada para fazer algumas entrevistas, mas percebi que não estava preparada. Precisava refazer o meu CV pro mercado daqui. O americano é excelente em marketing pessoal e isso precisava já constar no meu currículo. Eles têm uma maneira extremamente interessante de valorizar o que fizeram, a experiência que possuem, e a gente não sabe fazer igual. Contei com a ajuda de amigos que já estavam aqui pra isso, mas há empresas especializadas que pode valer a pena contatar. Uma delas é a Upwardly Global. Percebi também que nas entrevistas eu tinha que ser mais pró-ativa, perguntar mais sobre a empresa, por exemplo. Mas como estava pensando em ter mais filhos, acabei deixando de lado a busca de emprego. Engravidei de novo e tive um casal de gêmeos. Só voltei a trabalhar quase dois anos depois de chegar nos EUA.

     

    Como você achou o seu atual emprego?

    Na verdade foi meio a empresa que me achou. Eu tinha me candidatado a uma vaga nessa empresa assim que cheguei aqui, mas nem cheguei a ser contatada na ocasião. Tempos depois, eles buscavam alguém com o meu perfil para substituir uma pessoa que sairia de licença maternidade. Foi aí que entraram em contato comigo. O processo de seleção foi muito rápido, eles tinham pressa. Meus filhos gêmeos estavam na época com cinco meses, achei o momento propício para voltar à ativa. Em duas semanas comecei a trabalhar e acabei ficando, estou lá desde novembro de 2016. Trabalho como cientista assistente sênior na farmacêutica Celgene, fazendo ensaios em laboratório para identificar novos medicamentos para tratamento do câncer, área na qual eu já trabalhava desde a época do meu doutorado.

    Você sente algum preconceito ou alguma dificuldade em particular no seu trabalho pelo fato de ser estrangeira?

    Não. No corpo de cientistas da empresa onde eu trabalho há muitos estrangeiros, é uma companhia muito globalizada. Acredito que sempre existe lugar ao sol para quem trabalha direito e gosta do que faz. Mas acho importante ressaltar que casos de preconceito não é algo exclusivo dos EUA. Em quase todos os países há preconceito com relação a um povo específico. Na Alemanha é contra os turcos, na França contra os argelinos, aqui contra os mexicanos. O Brasil mesmo agora está vivendo uma onda de imigração de venezuelanos e já houve quem defendesse o fechamento da fronteira.

    No caso de quem só estudou em faculdades/ universidades do Brasil, nem sempre conhecidas aqui, você acha que é preciso fazer algum curso nos EUA para facilitar a recolocação?

    Todos os meus diplomas são de universidades brasileiras. Mas como optei por fazer ciência, fiz três pós-doutorados na França, onde tive a oportunidade de trabalhar com tecnologia de ponta, o que me preparou para o mercado de trabalho daqui. Mas aqui existe oportunidade de trabalho para todos os níveis de formação. O que eu aconselho é que as pessoas verifiquem a equivalência do seu diploma. Também há empresas especializadas nisso, que fazem a chamada “credential evaluation”, como a World Education Services (WES) ou a North America Educational Group- (NAEG). Se você cursou cinco ou seis anos de graduação no Brasil, aqui poderá ser equivalente a um mestrado. É importante checar.

    Também acho importante manter a cabeça aberta para oportunidades na sua área de atuação, mesmo que em funções diferentes do que você fez anteriormente. Se você se formou em fisioterapia no Brasil, por exemplo, você não poderá trabalhar como fisioterapeuta aqui, mas pode trabalhar em uma empresa que desenvolve próteses. E aqui especificamente na Bay Area há empresas inovadoras em todas as áreas, onde seu conhecimento pode ser útil no desenvolvimento de novos produtos e serviços. Qualidades como capacidade de síntese e organização são extremamente procuradas, além de qualidades pessoais como comprometimento com o trabalho e boas relações com os colegas. Talvez isso seja mais importante para você conseguir uma posição no setor privado do que a origem do seu diploma. Temos que saber olhar fora do quadrado. E outra dica importante: não pode mentir, dizer que possui o diploma de um curso que não concluiu, por exemplo. As empresas daqui checam tudo que colocamos no nosso CV.

    Você morou na França e na Inglaterra antes de vir pra cá. Qual foi a principal diferença para se adaptar a viver nesses países e nos EUA?

    A minha vida era muito diferente quando fui pra Europa e quando vim pra cá, então é difícil comparar. Quando fui pra Europa era solteira, não tinha filhos, minha vida era muito mais simples. Mas o fato é que quando deixamos o nosso país, seja para onde for, perdemos a nossa rede de contatos – em nível pessoal e profissional – que desenvolvemos ao longo da vida. E o maior desafio e reconstruí-la no novo país. Essa rede vale para tudo. Para escolher um médico, achar um encanador de confiança, um bom despachante e também encontrar emprego.

     

    E qual dica você dá para reconstruir essa rede?

    Falar a língua é fundamental. Eu já falava inglês quando cheguei aqui, mas senti a necessidade de aprimorar e me inscrevi num curso gratuito para adultos. Em praticamente toda cidade você pode encontrar um curso gratuito. Aprender a língua local é extremamente importante porque te permite interagir com o maior número de pessoas possível. Para criar uma nova rede social efetiva, não podemos interagir só com brasileiros. Temos que interagir com americanos e outros estrangeiros. Também me ajudou o fato de eu de ser muito comunicativa. Eu realmente converso com todo mundo. Saio na rua pra passear com o cachorro e converso com os vizinhos, os convido para a festa de aniversário dos meus filhos, gosto de cozinhar e receber gente em casa. Quando meu filho mais velho começou a ir pra escola, eu e meu marido também procuramos fazer amizade com os pais das outras crianças. Eu preciso conviver socialmente com outras pessoas. Na França também era assim.

    Você vive fora do Brasil e é casada com um estrangeiro. Como é conviver tão de perto no dia a dia com culturas diferentes?

    É  enriquecedor, mas às vezes também gera dúvidas, inclusive na criação dos filhos. Aqui, por exemplo, os pediatras não aconselham a dar suco de frutas para a criança, porque costuma-se comprar suco pronto e esse suco contém açúcar. Já no Brasil recomenda-se dar suco a partir dos quatro, cinco meses. Na França, nenhuma criança come fruta fresca até completar um ano, só fruta cozida. O que é certo e o que é errado afinal? Eu tive muita sorte de encontrar aqui um ótimo pediatra para os meus filhos que diz o seguinte: “O que é certo para a criança é o que dá paz de espírito para os pais”. Não é maravilhoso isso? E é exatamente o que eu faço. Pego o que acho melhor de cada cultura.