Brazilian Breads e KIVA: deu samba! – História da Delvira

Quando aprendeu a cozinhar, aos 13 anos, Delvira Rodrigues se apaixonou. Naquela cozinha aconchegante, cheirando a biscoito de polvilho e pão de queijo, ela só queria saber de absorver os conhecimentos culinários que a mãe e as tias tinham acumulado ao longo da vida. Ali nascia a vontade de passar o maior tempo possível entre panelas e ingredientes, mas ela nem poderia imaginar que, anos mais tarde, se veria em um outro país, tocando sua empresa de quitutes brasileiros, a Brazilian Breads, e tendo de lidar com as delícias e os desafios de ver seu sonho de criança se tornar realidade.

Em meados de Abril deste ano, Delvira comemorou mais uma etapa vencida: a conquista do primeiro financiamento concedido à sua empresa. O dinheiro – que já está sendo investido na compra de novos equipamentos, no treinamento de mais um integrante para a equipe e na confecção de uniformes – não veio por meio de um banco, mas da Kiva, uma organização sem fins lucrativos localizada em São Francisco. A plataforma permite que pessoas como eu e você apoiem o desenvolvimento de pequenos negócios, investindo a partir de US$ 25.

“Muita gente nunca tinha ouvido falar desse tipo de alternativa. Mas, uma vez que elas tinham acesso à informação e entendiam como tudo funcionava, se mobilizavam para ajudar. É uma coisa muito bonita, muito poderosa ver o outro apoiando a realização do seu projeto. Teve gente que, mesmo não podendo contribuir financeiramente, fez questão de ajudar na divulgação da campanha, trazendo outros apoiadores. Por tudo isso serei eternamente grata”, compartilha Delvira.

Portas que se fecham, janelas que se abrem
Com participação de investidores americanos e brasileiros, a campanha de financiamento da Brazilian Breads na Kiva atingiu seu valor-alvo uma semana antes do prazo final. A alegria de Delvira ao falar sobre a experiência é evidente. Especialmente quando relembra as dificuldades que enfrentou quando, depois de dois anos de trabalho duro vendendo quitutes brasileiros em feiras e festivais, decidiu que era a hora de investir em um ponto fixo para seu business.

Ela encontrou um local perfeito em Berkeley, mas que precisava de uns ajustes. Todas as economias que tinha acabaram sendo investidas na reforma e ela percebeu que teria de buscar financiamento para colocar o café para funcionar. Respirou fundo e começou a ir aos bancos com seu Business Plan em mãos.

Delvira perdeu a conta de quantos visitou e das vezes em que, sentada de frente para o gerente, ouviu a mesma palavra: não. Embora o business fosse formalizado e tivesse todas as licenças exigidas, seu fluxo de caixa não parecia muito atrativo para os bancos.

Quando já estava prestes a partir para o plano B (deixar o empréstimo empresarial de lado e aceitar um pessoal), surgiu uma opção que ela nem imaginava que existisse. Na época, Delvira estava frequentando um curso de Food Business e Empreendedorismo no Small Business Development Center (SBDC) e compartilhou com sua orientadora a resistência que estava encontrando ao buscar financiamento. “Você já ouviu falar da Kiva?”, a orientadora perguntou.

Ação e reação
Não, ela não tinha ouvido. Mas foi logo tratando de pesquisar e descobrir. Uma série de fatores chamaram sua atenção: o empreendedor não paga juros; tem um prazo confortável de 36 meses para quitar o empréstimo; e, assim que atinge o objetivo de sua campanha, recebe o dinheiro em poucos dias, sem complicação, via PayPal.

No site da Kiva, ela encontrou o formulário para iniciar o processo de candidatura. Preencheu tudo, enviou e esperou ansiosa pelo retorno, que veio em alguns dias. Pronto, seu projeto tinha sido aprovado e ela poderia começar a Fase 1 da campanha de financiamento: encontrar 25 familiares ou amigos que se dispusessem a ser os primeiros investidores. Não foi difícil contagiar a família: o objetivo foi cumprido em uma semana. Era hora de partir para a segunda e última etapa: a campanha pública.

Embora tenha sentido um friozinho na barriga porque essa fase dependeria de “pedir ajuda” a desconhecidos, Delvira decidiu encarar de frente e começou sua divulgação nas redes sociais. A informação foi se espalhando e ela percebeu que a resposta positiva era muito maior do que ela poderia imaginar.

“Uma coisa que aprendi com esse financiamento foi que, uma vez que você tem a coragem de pedir ajuda, vai descobrir que muita gente está disposta a ajudar. Posso citar o exemplo do apoio que recebi do BRAVE na divulgação. Quando as meninas fizeram contato comigo, estava com 70% da meta atingidos, mas já batia uma insegurança de não chegar aos 100%. Só que depois da publicação do post no blog, muitas integrantes do grupo me procuraram para saber mais sobre o projeto e senti que a onda de apoio se fortaleceu. No final, a meta foi atingida com uma semana de antecedência!”, conta.

Apoio mútuoHoje, Delvira diz que a experiência não apenas serviu para impulsionar seu negócio, mas para mudar sua percepção de mundo. Ela também se transformou em investidora em projetos que estão na Kiva e acredita que, apoiando pequenos negócios locais, sua empresa só tem a ganhar. “Ao dar suporte a esses projetos, estamos apostando no desenvolvimento da nossa região. E esse crescimento beneficia tudo e todos que estão ao redor”, acredita.

Seu sonho para os próximos anos é abrir outras unidades do Brazilian Breads pela Bay Area. “Dando um passo de cada vez, trabalhando muito e aprendendo com as experiências”, pondera. Ela também espera ver cada vez mais negócios de brasileiras florescendo na região.

“Vejo tanta gente talentosa na nossa comunidade, mas são poucas que decidem abrir uma empresa. Talvez pelo mesmo motivo que me segurou por um tempo: como imigrantes, nos sentimos um pouco acanhados, com medo de nos arriscar em um país com leis diferentes das que conhecemos. Mas a realidade é que imigrantes de outros países chegam aqui nas mesmas circunstâncias, abrem seus negócios e prosperam com serviços e produtos bem menos atrativos que os nossos. Acho que o que nos falta nessa área é só uma dose extra de autoconfiança. E apoio mútuo. Com nosso talento e o suporte da comunidade, vamos longe!”

Kiva pra quê?
Financiar seu projeto
• Se você tem uma empresa legalizada e precisa de dinheiro para incrementar o negócio, pode se candidatar a um empréstimo pela plataforma.
• Sua candidatura começa com o preenchimento de um formulário online, no qual você vai informar os dados da sua empresa, dizer o valor que pretende arrecadar e detalhar como vai usar o dinheiro.
• Se sua candidatura for aprovada, começa a sua campanha na plataforma. Ela é composta de uma fase privada (amigos e parentes contribuem) e fase pública (qualquer pessoa pode investir).
• Uma vez que você atinge sua meta e a campanha termina, a transferência de dinheiro é feita por meio do PayPal.
• Você tem 36 meses para pagar o empréstimo, sem juros.

Ajudar projetos de outras pessoas
• Você pode fazer doações diretas que vão de US$ 25 até US$ 200.
• A quantia que você investiu retorna para você em até 36 meses.
• Depois que o dinheiro que você emprestou retorna, você pode optar por reinvestir esse dinheiro na rede ou sacar.
• É importante ter em mente que qualquer empréstimo está baseado no compromisso de quem toma o empréstimo de honrar a dívida depois de algum tempo. Por isso, sempre existe um certo nível de risco nesse tipo de operação. A taxa de pagamento de empréstimo da Kiva, no entanto, é bem alta: 97%.
• A Kiva é uma organização internacional, portanto, você pode apoiar projetos no mundo todo.
• O que você ganha com isso? A chance de ver mais pequenos empreendedores prosperando e fazendo sua comunidade crescer junto!

Saiba mais:
Kiva – www.kiva.org
Braziliam Breads – www.brazilianbreads.com