Categoria: Sua História

  • Conexões à Mesa: Zaira Conta Sua História

    Conexões à Mesa: Zaira Conta Sua História

    Diferente de muitas histórias que encontramos por aqui, a jornada imigrante de Zaira Asis começa em solo brasileiro. Nascida na Argentina, Zaira se mudou para o Brasil com a família aos seis anos de idade. Aos 24 anos, abraçou um novo recomeço ao se mudar de São Paulo para São Francisco, na Califórnia, onde mora até hoje. Depois de quase uma década imersa no mundo corporativo, trabalhando na área de tecnologia, ela reencontrou sua paixão pela gastronomia, área na qual empreende atualmente.

    Foto: Acervo Pessoal

    Após se mudar para o Brasil ainda criança, Zaira teve sua educação básica e universitária em São Paulo, onde se formou em relações internacionais e gastronomia. Logo em seguida da sua graduação, começou a trabalhar na Meta (Facebook Inc), e alguns anos depois, teve a oportunidade de ser transferida para a sede da empresa em Menlo Park, Califórnia. Essa mudança não apenas marcou um ponto crucial em sua vida pessoal e profissional, mas também facilitou seu processo migratório para os Estados Unidos. 

    A nova fase nos Estados Unidos também trouxe desafios, incluindo diferenças culturais dentro da própria empresa. Uma das diferenças mais evidentes foi a natureza menos pessoal das relações de trabalho nos Estados Unidos. “O que mais me incomodava era a dificuldade de me expressar com autenticidade.  Com o passar do tempo encontrei o equilíbrio certo para me expressar melhor.”, relembra Zaira. 

    A identidade cultural de Zaira também passou por um momento de conflito durante a sua segunda mudança de país. Por ter morado muito tempo no Brasil, mas ter nascido na Argentina, ela se viu em meio a um embate interno. Hoje, deseja que as pessoas compreendam o quão empoderador é abraçar sua identidade cultural e entender que ela pode ser fluida. “Em vez de eu ser metade brasileira e metade argentina, sou os dois: 100% brasileira e 100% argentina”.

    Após oito anos trabalhando em diferentes equipes de produto na Meta, Zaira embarcou em um novo capítulo de sua vida, explorando sua paixão pela gastronomia de maneira mais profunda. “Sempre fui conhecida entre amigos argentinos e brasileiros como aquela pessoa que cozinha e reúne todo mundo; que cria conexões à mesa”, conta. Sua formação em gastronomia e sua habilidade de reunir pessoas a levou a começar a organizar eventos pop-up com raízes latino-americanas, inicialmente em sua própria casa e depois em outros locais: assim nascia a Casa Aya.  

    Foto: Acervo Pessoal

     

    Foto: Zaira Asis

    Zaira organizou pop-ups através da Casa Aya por seis meses e, em seguida, embarcou em diversas oportunidades de estágio nos renomados restaurantes Flour + Water, Rich Table e Lord Stanley. “Enxergar São Francisco com outros olhos foi muito mágico. Ter acesso aos bastidores da cena gastronômica da cidade mudou completamente minha perspectiva de viver aqui”, relata.

    Enquanto Zaira teve uma mudança total em sua rotina, deixando o mundo corporativo para trabalhar em restaurantes durante a noite e aos finais de semana, também se viu imersa em experiências até então incomuns. “A segunda-feira começou a ser meu domingo, e teve uma ocasião em que fui ao Conservatory of Flowers e estava perfeito, tranquilo. Minha nova rotina me permitiu vivenciar São Francisco de uma maneira maravilhosa em plena segunda-feira. Foi nesse momento que reconheci o privilégio de ter uma rotina diferente”. 

    Muito além de apenas cumprir o horário de trabalho, Zaira buscava conhecer a história por trás de cada prato. Um dos restaurantes em que trabalhou recebia chefs convidados todo mês: a cada nova criação, uma narrativa única. “Eu perguntava tudo sobre cada prato, seus ingredientes e a história que inspirou cada chef a criar”. Com sua curiosidade antropológica e o desejo de compartilhar essas histórias, Zaira levava também sua câmera para registrar as novas criações gastronômicas, os chefs convidados, colegas de trabalho e a conexão entre a comida e o ambiente. Após algum tempo, começou a compartilhar suas fotos e relatos no Instagram do próprio restaurante. 

    Foto: Zaira Asis

    Com o passar do tempo, Zaira começou a enxergar mais oportunidades para amplificar as histórias e criações dos restaurantes em que atuava. Foi assim que, em 2023, fundou uma pequena empresa de comunicação e marketing voltada para a gastronomia, Atelier Aya. Durante o primeiro ano de operação, Zaira destaca que seu grande aprendizado foi aprimorar sua própria história e saber comunicar o que seu próprio negócio tem a oferecer. Ao longo desse processo, ela percebeu que fazer parte de uma comunidade era ainda mais essencial para manter um senso de pertencimento e equilíbrio emocional. 

    Mesmo falando inglês fluentemente, ela ressalta que gerenciar um negócio em inglês traz uma camada extra de complexidade à sua rotina diária. “Minha rede de apoio foi fundamental para que eu pudesse navegar essa fase inicial do empreendedorismo, desde como abrir uma empresa até entender sobre impostos e leis – tudo isso pode ser muito intimidante para alguém sem experiência prévia”.

    Foto: Acervo Pessoal

    Apesar dos inúmeros desafios de empreender, Zaira carrega consigo um repertório cultural que faz toda a diferença ao contar histórias e criar comunidades através do marketing. “O marketing é extremamente lúdico e sensorial. Vindo de culturas latinas que são tão ligadas ao prazer voltado à mesa e à comida afetiva, vejo um grande valor no trabalho dos meus clientes. Para mim, é, muito natural criar narrativas que evidenciam essa riqueza gastronômica” 

    Ao refletir sobre o futuro, Zaira compartilha o desejo de continuar empoderando e criando uma plataforma para negócios de alimentos, especialmente aqueles mais artesanais e de propriedade de pessoas latinas, sobretudo mulheres. Em constante conexão entre Brasil, Argentina e Estados Unidos, Zaira traz sua visão sobre comida e expressão cultural em sua Newsletter merienda

    Foto: Acervo Pessoal

    Próximos capítulos: continue acompanhando a história da Zaira no LinkedIn e Instagram.

  • Da Arte à Maternidade: Giovanna Almeida Conta Sua História

    Da Arte à Maternidade: Giovanna Almeida Conta Sua História

     

    Giovanna e seu filho, Matteo. Foto: Acervo Pessoal.

    Giovanna, natural de Brasília e com passagem por Minas Gerais, atualmente chama Woodbridge Township, Nova Jersey, de lar. Sua trajetória é repleta de histórias que permeiam a fusão cultural de Nova York, dos bastidores do teatro e eventos a desafios corporativos. Hoje, o que começou como uma breve experiência solo de morar um tempo fora se consolidou como uma jornada compartilhada, agora marcada pela maternidade.

    A mudança para os EUA: primeiros passos na cidade que nunca dorme

    Antes de se mudar para os Estados Unidos, Giovanna, com experiência em atuação e produção teatral, trabalhava na Rede Minas, uma TV pública de caráter cultural e educativo. No entanto, em 2013, Giovanna se deparou com uma onda de demissões decorrentes do ajuste de politicas públicas, que resultou na dispensa da maioria dos funcionários para abrir espaço para futuros servidores contratados por meio de concurso público. Diante desse cenário desafiador, ela tomou uma decisão que iria mudar Sua História: aproveitar sua recisão para concretizar o sonho de passar uma temporada em Nova York.

    Ao chegar em NYC em 2014, Giovanna mergulhou na cena teatral, vivenciando de perto ensaios e produções de diversas companhias teatrais locais. Essa fase importante de sua jornada a aproximou de um companhia brasileira chamada Group.BR, a única companhia de teatro brasileiro em Nova York. Foi assim que conheceu a brasileira Debora Balardini, co-fundadora da Group.BR.Debora, que estava em processo de abrir um espaço multicultural e versátil de eventos, convidou Giovanna para conhecer o então chamado Punto Space e trabalhar como produtora do espaço. Essa oportunidade marcou o início do processo de imigração de Giovanna, quando aplicou para o visto de trabalho patrocinado pelo Punto Space.

    Em 2015, o Punto Space abriu suas portas no coração do Distrito Fashion. Ao perceber a necessidade de estabelecer um departamento de marketing, Giovanna liderou a criação, e, ao longo de 4 anos, a coordenação da equipe de marketing do local, desenvolvendo guia de marca, missão, visão, público-alvo, estratégias de mídias social e comunicação. Além disso, colaborou com renomadas empresas como L’Oréal, Netflix e marcas do New York Fashion Week.

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    Desenvolvimento de carreira: uma jornada cultural

    A adaptação ao ambiente de trabalho nos Estados Unidos foi um desafio para Giovanna. Acostumada a um ambiente mais acolhedor no Brasil, ela teve que ajustar-se à estrutura mais específica e segmentada das funções nos Estados Unidos. Superar os questionamentos externos e internos sobre suas habilidades foi um processo gradual, mas Giovanna rapidamente percebeu que suabagagem cultural não era uma limitação, mas sim um valioso recurso.

    No final de 2019, Giovanna ingressou na equipe do Gympass, uma empresa Brasileira com sede nos Estados Unidos. Desde então, ela tem percorrido diversas posições, iniciando na comunicação corporativa, passando pela área de eventos e, finalmente, chegando ao marketing de produto, sua posição atual. Apesar das mudanças de função, um elemento constante em sua trajetória foi a construção orgânica de relacionamentos com propósito e o apoio dedicado aos seus colegas. Além de suas habilidades profissionais, essa qualidade é intrínseca à sua personalidade. “Eu acredito na liderança baseada na empatia. Minha visão é única, mas nunca superior, e sempre preciso do outro. A máxima de que ninguém faz nada sozinho permanece mais atual do que nunca”, enfatiza Giovanna.

    Alegrias e desafios da Maternidade nos EUA

    Nos últimos anos, a maternidade se revelou como uma verdadeira virada de chave na vida de Giovanna, transformando significativamente seu mundo: “Muda tudo”, resume a mãe de Matteo, 2 anos. Apesar das inúmeras alegrias que a maternidade trouxe, Giovanna também se deparou com desafios únicos. A experiência de estar grávida durante a pandemia, afastada da família e amigos próximos, tornou-se uma jornada desafiadora.

    Momento família: Giovanna, Matteo e Alan

    A nova vivência trouxe consigo desafios culturais inéditos para Giovanna, destacando a necessidade de compreender os direitos das gestantes e as leis trabalhistas nos Estados Unidos relacionadas à maternidade. Giovanna compartilha que, nos Estados Unidos, há ainda um longo caminho a percorrer para proporcionar um olhar mais humanizado às mulheres grávidas e mães, abrangendo desde suporte médico até apoio educacional.

    A gravidez durante a pandemia intensificou a sensação de falta de acolhimento, impulsionando Giovanna a buscar apoio profissional por meio da terapia. Essa experiência nos faz refletir a importância de promover uma abordagem mais compreensiva e empática às necessidades das mulheres grávidas e mães.

    Após o nascimento do filho, o trabalho remoto tornou-se um privilégio. Sempre sintonizada com a cultura brasileira, ela considera cada oportunidade de transmitir suas raízes ao filho como uma valiosa herança: “Se eu puder deixar um legado para ele, será a brasilidade, um traço único em sua identidade”.

    Sobre a volta ao ambiente corporativo pós maternidade, Giovana afirma que quer continuar crescendo como mulher profissional e também como mãe.

    Comunidade e Conexões

    Atualmente, Giovanna participa de um grupo de WhatsApp de mães brasileiras em NYC e mantém muitas amizades que construiu na comunidade artística brasileira na cidade. Ela destaca a relevância dessas conexões, sublinhando que viver nos EUA sem acesso a uma comunidade brasileira torna a experiência bastante desafiadora. Sua história é um legado de brasileiridade, equilíbrio e uma busca constante por crescimento, tanto profissional quanto pessoal.

    Próximos capítulos: continue acompanhando a história da Giovanna no LinkedIn e Instagram.

    Até a próxima!

  • Melissa Ribeiro – BRAVE Sua História

    Melissa Ribeiro – BRAVE Sua História

    Melissa Ribeiro, 45 anos, trilhou o seu caminho para a Bay Area com um foco de laser. Ela iniciou sua carreira na área de recursos humanos em uma empresa americana em sua cidade natal Londrina, no Paraná, e o seu conhecimento da língua inglesa serviu de passaporte para muitas oportunidades. Interessada em continuar ampliando seus conhecimentos, perseguiu uma oportunidade de ser transferida para os EUA e realizar um mestrado. Nos EUA, Melissa passou por empresas como IBM, Thomson Reuters e Yahoo, e morou em Nova York, Florida, Los Angeles e Mountain View.

     

    “Quando você não tem homem e filho na sua vida, e você tem ambição de querer crescer, você vai e faz o que tem que ser feito. Era fazer uma mala e ir embora”, brincou Melissa. Em suas andanças, Melissa compartilhou como foi conquistar espaços dominados por homens sendo uma mulher, imigrante e brasileira. “Se você fala que é brasileira, já te olham de cima a baixo e perguntam se você dança no Carnaval. Eu me sentia humilhada.” Mas, não deu espaço para rótulos e conquistou respeito e espaço no mercado americano. Muitas vezes, aquilo que poderia ser encarado como uma barreira, foi seu grande trunfo. “Muitas posições globais que ocupei no começo da carreira foi porque eu não era americana. Eu poderia ter um entendimento diferente para lidar com outros públicos.”

    Sua ambição e perseverança nos estudos a ajudou a superar um diagnóstico de TDAH e a ensinou como canalizar sua energia e talento para alcançar uma carreira de sucesso. Hoje, Melissa é Chief People Officer na Actian e vive com sua família em San Carlos. Após dar uma entrevista ao Jorge Pontual do Fantástico sobre o mercado de empresas fo Vale do Silício, convidamos Melissa para um bate-papo com o BRAVE para conhecer mais sobre sua trajetória de vida, quais foram os desafios e conquistas como imigrante brasileira no mercado profissional americano e sua relação com a Bay Area. Confira a conversa completa e as dicas da Melissa para quem está desenvolvendo sua carreira profissional nos EUA e mais destaques no BRAVE Sua História no Instagram.

    Conte um pouquinho de sua história e como tudo começou?

    Eu ainda estava no segundo ano da faculdade e tive oportunidade de aprender inglês bem cedo na minha vida. Eu queria fazer estágio numa empresa americana para poder estar exposta à língua e também porque todo mundo vê os Estados Unidos como um foco de grandes empresas, com as melhores referências, inovação, e criatividade. 

    Então, com 18 anos, eu bati na porta de uma empresa e falei: “olha, eu quero ser estagiária aqui”. Eles não tinham nenhuma posição naquele momento, mas eu fiquei acompanhando por uns três meses até um dia rolou uma uma vaga para recursos humanos. Eu era a única pessoa da equipe de RH que falava e escrevia em inglês. A oportunidade da língua foi o que me abriu todas as oportunidades na minha vida profissional.

    Eu tive acesso a executivos bem no começo da carreira, para traduzir programas e implementar best practices no Brasil e tive que criar uma estrutura logo de cara lidando com executivos, e na maioria homem.

    Quando eu decidi fazer meu segundo mestrado, eu quis fazer nos Estados Unidos. Eu estava namorando para casar, nós dois trabalhávamos para a mesma empresa e ambos queríamos estudar fora. Nós fomos pedir demissão e a própria empresa falou que poderia nos transferir. Essa porta de entrada foi muita sorte. Fui transferida para Atlanta, na Georgia.

    Após um período, fui trabalhar na IBM e, por ser brasileira, me colocaram numa posição para treinar e recrutar pessoas da América Latina. Eu não falava um pingo de espanhol, então eu tive que fazer aulas de noite e falar “portunhol” para começar. 

    Naquela época eu já estava me divorciando, e também decidi fazer o meu PhD, mas para isso não conseguiria trabalhar full time. Então, eu virei Executive Recruiter, e nessa posição eu tive mais flexibilidade de horários. Consegui me manter assim. (….)

    Em determinado momento, surgiu uma oportunidade em New York para trabalhar na área de recursos humanos. Quando fui para NY foi quando a coisa bateu mesmo. Tive que tomar conta de mim mesma. A empresa para onde eu fui não me pagava quase nada, e eu não fiz uma pesquisa de mercado legal, então eu aceitei ganhando muito pouco e morando em Manhattan. Tinha meses que eu não tinha dinheiro para o metrô, tinha que andar 24 quadras para a empresa. Comprava comida enlatada porque durava mais. E, vou te dizer, foi a melhor fase da minha vida, porque eu comecei a acreditar no que eu iria conquistar e fazer, eu não tinha medo. Botei minha cara a tapa, e consegui um outro emprego em uma empresa internacional. Novamente, voltei a trabalhar com executivos, só homens, então eu não era apenas “a mulher, brasileira”. Eu espero que a nova geração não tenha mais isso, mas se você fala que é brasileira, o cara te olha de cima a baixo e pergunta se você dança no Carnaval. Eu me sentia humilhada Mas aí na hora eu cortava a conversa, para a pessoa começar a me respeitar.

    Fui a um evento de networking, onde ouvi uma mulher super inspiradora. Tudo que ela falava batia com o que eu queria para minha carreira. No final da palestra, me apresentei para ela e falei “quero manter contato porque eu vou trabalhar para você”. (…) Eu a persuadi por algum tempo, e um dia ela me chamou para fazer entrevistas. Eles precisavam de uma diretora de recursos humanos para M&A na Thomson Reuters. Eu fui enviada como expatriada para o Brasil, durante dois anos, em SP. Fizemos aquisição de 8 empresas e eu fui responsável por todo o processo relacionado a pessoas. (…) Eu tive muita sorte, porque novamente eu fui atrás e expandi. 

    Depois, Fui trabalhar na Yahoo, em Miami, numa posição responsável por toda a parte de pessoas para América Latina. Foi um trabalho fantástico. Ganhei prêmios da Yahoo e depois me pediram para mudar para o HQ em Sunnyvale.

    Mudei para a Bay Area e fui morar em San Francisco. Eu estava solteira e queria estar lá no movimento. Eu queria poder andar, passear, conhecer gente, então foi muito bom. Continuei trabalhando para a Yahoo, mas a empresa começou a decair (….) e começaram a mandar muita gente embora e eu não quis participar disso. Fui trabalhar numa empresa em San Mateo, liderando globalmente, e foi aí que virei Executive. Tive uma rotação fantástica (…)

    Quando você não tem homem e filho na sua vida, e você tem ambição de querer crescer na vida, você vai e faz o que tem que ser feito. Era fazer uma mala e ir embora.

    Mas aí eu conheci o amor da minha vida, o meu marido, no período em que estava fazendo uma transição para Los Angeles. Ele topou vir comigo, então nos mudamos para Los Angeles, onde ficamos por 3 anos. 

    Mas, o agito da Bay Area é muito grande. A energia, a inovação, a criatividade, as estratégicas ocorrem aqui. LA é uma cidade legal, mas eu queria estar envolvida com as pessoas da Bay Area. Nesse momento, voltei para o mercado para voltar para a Bay Area. E aí cheguei nesse papel de Chief People Officer, o qual diz respeito às pessoas, e não da operação de RH.  Meu trabalho está crescendo demais, a nossa empresa acabou de realizar uma compra de uma empresa de $10 Bi  e agora vai ter muito trabalho de crescimento, estamos acelerando muito e eu e minha equipe somos responsáveis em trazer o talento. tem bastante pressão, mas eu amo pressão.

    Quais foram os seus maiores desafios como imigrante? E se você soubesse de algo antes, o que você teria mudado?

    Eu não me arrependo de nada. Eu acho que todos os conflitos e batalhas foram conquistadas e fez eu ser quem eu sou. Até passar fome fez parte de quem eu sou, para valorizar as coisas na vida. Eu acho que, em termos de dificuldades, eu sempre fui a primeira mulher de uma equipe, nos EUA e naquela época, até mesmo hoje, não é fácil. Acho que ganhamos grandes batalhas com o movimento do Black Lives Matter, porque agora todo mundo está olhando para questões de diversidade e inclusão e como vamos introduzir mais minorias nas empresas, e eu sou responsável por isso. Mas, o labelling de que “mulher brasileira precisa ser gostosa, tem que ser sensual”. Precisamos manter quem nós somos, mas na vida profissional eu não quero ser vista com esses olhos. Você leva cantada em todos os lugares.

    A mulher brasileira tem muito charme. A gente sorri mais, tem aquele encanto que eu chamo de gravitas, que as pessoas se atraem, porque somos mais abertas para outras pessoas. (…)

    Em segundo lugar, diria que um grande desafio é a língua. Até hoje, eu dou palestra, faço podcast, e eu sempre me desculpo no começo porque eu sei que algumas coisas não vão fazer sentido, porque não é a minha língua nativa. Eu consigo ter domínio, mas nunca vou ter a fluência de um americano. Mas como consegui “virar” isso? Eu não me levo muito a sério. E de vez em quando eu vou errar durante uma palestra, posso falar uma besteira grande. Quem não domina o inglês tão bem, acaba usando mais palavrão. Eu sou Head Mundial de RH e não deveria usar palavrão, mas eu uso, porque eu transformo a conversa e a pessoa relaxa um pouco. Não uma coisa agressiva, mas para descontrair e humanizar.

    Muitas posições globais que ocupei no começo da carreira foi porque eu não era americana. Eu poderia ter um entendimento diferente para lidar com outros públicos. Nesse caso, a “rotulação” foi usada a meu favor. Aquilo que era o meu desafio da língua, eu usei a meu favor.

    Quando você apanha, aprende que pode fazer certas coisas e não ter medo. (…) Você vai apanhar e receber um monte de não, é natural. Mas, você vai transformar essa não em um grande sim, porque você vai aprender a lição.

    Como você lidou com seu Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ?

    Na época  da escola, eu ouvia um passarinho e já me desconcentrava. Foi um milagre eu ter conseguido acabar a escola e entrar na faculdade, mas sempre por muito pouco. Mas eu comecei a fazer psicologia, e nas minhas leituras sobre TDAH eu me descobri nisso.

    (…) Eu fui ao médico, tomo Ritalina desde os 27 anos de idade, e mudou quem eu sou. Eu foco e também sei das minhas limitações.(…) Saber minha limitação foi muito importante. Eu sei que até certa hora eu vou ser produtiva, depois daquele horário eu só vou fazer coisas repetitivas e mecânicas, eu não vou conseguir produzir muita criatividade.

    Qual a sua mensagem para as imigrantes brasileiras que estão chegando à Bay Area buscando oportunidades?

    1. LinkedIn: deixe sua página entendível para as pessoas que estão buscando talento. Vá na página de alguém que você respeita e se inspire nessa estrutura. é muito importante.  Tenha uma foto apresentável, que reflita você.
    2. Entre em contato e se associe com grupos onde você acha que podem rolar oportunidades.
    3. Em eventos de networking, não tenha medo de se apresentar. Você é maravilhosa, você tem coisas ótimas que a outra pessoa ainda não sabe. é o teu trabalho fazer a outra pessoa conhecer. Então, tenha coragem de se apresentar! Caso você saiba que alguém interessante vai estar lá, procure o perfil da pessoa e talvez vocês achem coisas em comum. E nós brasileiras, temos o charme, nós sabemos fazer essa conexão com algo que você já tem, e conseguir estabelecer.
    4. Não pare de estudar! Você precisa saber das tendências, mudanças, não pode parar. Não pode ter preguiça. 
    5. A gente não pode esquecer do número 1: você vem na frente de qualquer um. Se você não fizer isso por você, ninguém vai. O homem é mais egoísta nesse sentido, e a mulher precisa ser mais egoísta também.