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  • Valéria Sasser

    Valéria Sasser

    Há 18 anos, apostando num relacionamento que dura até hoje e que começou no velho chat ICQ, Valeria Sasser deixou o Brasil e veio para a Califórnia. Aqui, sempre esteve extremamente ligada à comunidade brasileira, seja por meio de entidades voltadas à língua portuguesa ou representando a nós, brasileiros no exterior, como voluntária junto a um canal de comunicação do Itamaraty.

    Com esse olhar privilegiado, Valeria desenvolveu uma visão crítica sobre a nossa comunidade e sugere que estejamos mais dispostos a aprender com os latinos e portugueses, por exemplo, que há muito mais tempo trilham essa estrada.

    E, mesmo considerando os altos e baixos da vida de imigrante, ela deixa claro que a experiência vale a pena, desde que estejamos despidos de nossos preconceitos e abertos para o novo.

     

    Como era sua vida no Brasil?

    Minha vida no Brasil era bastante comum. Virei adulta no eixo Rio-Niterói durante os anos 80. Época bastante confusa, com inflação alta e, com o final da ditadura militar, de reorganização política. Trabalhei em grandes empresas no Brasil e como tradutora free-lance nos últimos anos antes de imigrar. Meu primeiro emprego foi na Varig, o que me permitiu conhecer muito do Brasil, desde Alter do Chão, no Pará, até o Rio Grande do Sul. Cresci em um mundo analógico e fiz a transição para o mundo digital. Utilizei tanto máquina de escrever quanto processadores de texto e considero isso uma vantagem, pois me dá a capacidade de ver certas coisas mais globalmente, além de agilidade para mudar de direção e abraçar o novo, o diferente. Sempre gostei muito de praia, sol, calor. E é disso que mais sinto falta aqui na Bay Area com suas praias de águas congelantes e vento frio.

    Como você veio parar nos EUA? Quais foram seus maiores desafios?

    Eu me apaixonei por um americano que era militar, ainda na ativa. Ele não podia ir para o Brasil, a única opção era eu vir pra cá. Nunca havia pensado seriamente em imigrar. Acreditem ou não, eu o conheci no antigo chat do ICQ, em 1998, bem no início de tudo isso. Para se ter uma ideia, o Google tinha sido fundado dois anos antes, e o Facebook só veio a ser criado em 2004. Smartphones ainda não existiam, portanto nada de Skype ou Facetime e e-mail era o meio mais rápido de comunicação.

    Os desafios foram vários. Eu falava inglês, mas aqui percebi que falhava na fluência e imediatamente entrei em uma escola para adultos e no community college. Quiseram me colocar no English as Second Language (ESL), mas me recusei, afinal eu já falava e entendia tudo. Me matriculei em matérias com muito texto e explanações vigorosas.

    Esse passo foi fundamental para adquirir a fluência que eu buscava. Cometia erros e seguia em frente. A brusca mudança cultural gerou muitos conflitos entre eu e meu marido no início, mas hoje rimos das histórias, algumas muito engraçadas.

    O que você gostaria que soubesse antes de ter se mudado

    Apesar de saber que haveria diferenças culturais, eu não sabia o quão profundas elas seriam. Quando se casam, homens e mulheres têm um choque cultural (foram criados em casas diferentes, com hábitos e atitudes diferentes, além de serem homem e mulher). No meu caso, as opções anteriores, acrescidas de cultura e país diferentes, imigrante versus local. Ele nasceu e cresceu no chamado Southwest e estávamos na Califórnia, portanto, ele mesmo enfrentava diferenças culturais com a cultura que eu estava abraçando. E, para piorar, ele é republicano e eu, democrata (não, ele não votou no atual presidente, apesar do partido). Se eu conhecesse mais profundamente esses e outros detalhes da cultura americana, eu poderia ter feito muita coisa diferente e ter me adaptado mais rapidamente.

    Quais foram seus projetos mais importantes aqui na Bay Area e com a comunidade brasileira?

    De todos os projetos, eu mencionaria três como mais importantes: o Projeto Contadores de Estórias, que liderei de 2007 a 2012; o Instituto Brasil de Educação e Cultura (IBEC), cuja fundação foi liderada por mim em 2011; e minha experiência como porta-voz do Conselho de Cidadãos de São Francisco junto ao Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior (CRBE) – deste último eu ainda sou ativa.

    Os dois primeiros foram importantes por serem canais de acesso à língua portuguesa na nossa região. O último, por me permitir trabalhar junto ao governo brasileiro, inspirando, corrigindo e sugerindo políticas públicas que auxiliem a via transnacional de estimados 4 milhões de brasileiros no exterior. Conseguimos, ao longo dos anos, vitórias importantes, como o passaporte de dez anos. Agora, estamos trabalhando a respeito da sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a cidadania brasileira. Ao participar das reuniões e conferências com brasileiros residentes no mundo inteiro, temos a perspectiva de quanto nosso trabalho voluntário no CRBE é importante. Para mais detalhes sobre o CRBE, vejam o decreto que o criou  e o plano de ação.

    Além dos projetos acima, escrevi regularmente para duas publicações voltadas aos brasileiros, escrevo ocasionalmente para a Medium e o LinkedIn, fiz parte por um ano do conselho da Brazilian Alliance e organizo vários eventos durante o ano ligados à promoção e difusão da língua portuguesa, tais como cursos e workshops para a formação de professores e a celebração do Dia da Língua Portuguesa. Desde dezembro, sou editora-chefe do Portuguese Language Journal, publicação acadêmica ligada à American Organizations of Teachers of Portuguese (AOTP), da qual também já fui conselheira para a Costa Oeste.
    Colaborei ainda com vários projetos, tais como o Plano Ato Brasil, que visa informar os brasileiros sobre seus direitos imigratórios e projetos de terceiros que estejam alinhados com minhas perspectivas e valores.

    Fale um pouco sobre a sua experiência com o trabalho com a comunidade brasileira da Bay Area. Quais as oportunidades e desafios de trabalhar com a comunidade brasileira?

    Essa pergunta é complicada. De cara, posso dizer que a falta de engajamento e de apoio da comunidade é um dos maiores problemas. A comunidade, de modo geral, é extremamente individualista e muitas vezes egoísta mesmo. Me espanta a falta de empatia com o brasileiro ao lado e o imediatismo. Empresas e negócios dedicados aos brasileiros muitas vezes fecham pela falta de apoio e compromisso da comunidade, que vão do desinteresse até o calote. Maus hábitos trazidos do Brasil que podem destruir uma comunidade.

    Nesses meus 16 anos de observação privilegiada, a comunidade mudou consideravelmente e parece bastante volátil. Há um movimento grande de brasileiros dentro das comunidades, pessoas chegando e partindo todo o tempo, tanto pessoas sem especialização quanto pessoas com muita especialização. Manter a informação corrente e constante e promover a integração dos antigos com os recém-chegados é um desafio para grupos como o BRAVE.

    Outro problema é o fato de o brasileiro não se associar nem aprender com comunidades mais antigas, como a dos latinos. E olha que somos latinos também. Não somos hispânicos, mas somos latinos. O mesmo ocorre com a comunidade portuguesa, com os brasileiros trazendo para cá e replicando preconceitos antigos e inúteis no relacionamento com essas comunidades, desde o desdém e o ridículo baseados na ignorância com relação a culturas ricas e similares à nossa até a exploração de latinos por empregadores brasileiros. Essas comunidades, por estarem mais tempo na estrada, podem nos ensinar e podem também ajudar a fortalecer a nossa voz.

    Qual a sua sugestão para que a comunidade se torne mais engajada e unida?

    A comunidade precisa se ver como comunidade. Os brasileiros, em geral, são bem individualistas e não veem o outro como parceiro, mas como concorrente. Outros repetem aqui os comportamentos predadores que criaram o clima de desconfiança que existe no Brasil. Outros ainda trazem arrogância e preconceitos daquela sociedade e os replicam aqui. O preconceito linguístico, por exemplo. Quando eu liderava o IBEC, tínhamos professores de todas as partes do Brasil, inclusive do Nordeste. Uma vez, os pais de duas crianças disseram que queriam que elas aprendessem o português com um sotaque, digamos, de mais prestígio (não usaram exatamente essas palavras…). Eles não queriam que seus filhos aprendessem o sotaque nordestino. Como se a língua fosse estática e como se os sotaques deles próprios não fossem mais influentes. Como se essas crianças fossem falar com o sotaque do professor. São alunos de herança, falariam com seus sotaques estrangeiros e o sotaque da família.

    Outro problema são as condutas moralmente reprováveis que muitos têm dentro da comunidade. Por exemplo, uma pessoa encomendou dois centos de salgadinhos de uma brasileira em caráter de emergência. No momento que a mesma ligou avisando que tudo estava pronto, a pessoa que fez a encomenda disse que não queria mais, porque encontrou mais barato em outro lugar. Outro que alugava quartos e explorava todo mundo até que foi levado à Justiça. Esse tipo de coisa cria discórdia e gera ressentimento, desconfiança. Por que fazer isso? Outra questão é a de agir por impulso, sem analisar as situações, sem pensamento crítico. É preciso ter cuidado.

    Aqui, somos todos imigrantes brasileiros. Não importa regionalismos, preconceitos, somos apenas brasileiros no exterior. Devemos ter compromisso, cada um de nós, com todos nós. Devemos nos cuidar e nos respeitar.

    Você tem algum mentor, alguém que te inspirou ou ainda inspira?

    São vários e nem me arriscaria a mencionar nenhum para não correr o risco de ser injusta com alguém. Além de pessoas com as quais tenho contato pessoal, sou ávida leitora. Leio desde livros e artigos acadêmicos sobre transnacionalismo, educação e língua portuguesa até livros sobre negócios, política, tecnologia, ciências sociais, dentre outros muitos. Sou uma colcha de retalhos de todas essas influências e informações. Tenho muito a aprender todo dia.

    Quais os próximos planos?

    Venho considerando concorrer a cargos públicos na minha cidade aqui nos Estados Unidos. Ainda não tomei uma decisão. Mas se me candidatar e vencer, serei a primeira brasileira eleita a um cargo público na Califórnia.

    Eu trabalho para o judiciário estadual há mais de dez anos e vejo com respeito o trabalho duro feito dentro da minha agência, observo a criação de políticas públicas de perto. Além disso, meu envolvimento comunitário e com o governo brasileiro na concepção de políticas públicas brasileiras, assim como meus contatos locais com outras comunidades de cor, me deram uma perspectiva valiosa sobre o que as comunidades precisam. Acredito que há muito a fazer nas políticas públicas locais para que elas sejam mais inclusivas e respeitem as comunidades imigrantes, dentre vários outros assuntos abordados sob a lógica e a perspectiva progressista. Mesmo que o imigrante já seja cidadão americano, essa sociedade, mesmo que sutilmente, coloca um telhado de vidro sobre pessoas com sotaques ou de cor. Especialmente agora, sob essa administração racista e sem compromisso com a inclusão social.

    Os ideais progressistas que remontam à fundação deste país são baseados na perspectiva moral de empatia e na responsabilidade de cada um com um Estado que protege e empodera seus cidadãos. Uma comunidade forte se faz com pessoas de todos os extratos sociais, dos menos favorecidos aos ricos. Todos lucram e crescem com a solidez de ter todos os pontos de vista sendo levados em consideração. Tenho certeza que a força de vontade e a coragem que o imigrante tem de modo geral, apenas pelo fato de  imigrar, é a mesma necessária para a vida política. Espero ver outros brasileiros e brasileiras concorrendo a cargos públicos.

    Alguma dica para quem está se mudando pra cá ou quer trilhar um dos caminhos que você já trilhou?

    Venha sem medo. Mas dispa-se de muitas de suas certezas sobre o que é a cultura americana. E venha com o coração aberto para aprender tudo de bom que essa sociedade tem a oferecer.

    Separe o joio do trigo. Desvencilhe-se de seus preconceitos sociais e síndromes diversas, como o complexo de vira-lata.

    Venha apreciar e aprender. Existe uma curva imigratória pela qual todos passamos, em maior ou menor escala, que é composta de quatro fases: lua-de-mel, realidade, fundo do poço e assimilação/aculturação (chamo de fase de paz). Na primeira, chegamos em “awe”, depois vamos vendo o que há de bom e ruim na sociedade local e comparando. Após essa fase, chegamos ao fundo do poço, quando achamos o novo local o fim do mundo e temos o impulso de voltar. Por fim, começamos a nos reerguer de novo, vendo coisas boas, comparando novamente e pesando os prós e contras, já participando da cultura e da vida local. Tendo em mente que você passará necessariamente por uma ou mais dessas fases, já é uma vantagem ter consciência que imigrar é de fato um grande processo.

    Além disso, tenha em mente que, depois de se adaptar, você terá uma vida transnacional, pertencendo a dois lugares simultaneamente. Em tempos de globalização e tecnologia, isso é fantástico. Curta seu momento e participe de grupos como o BRAVE, Brasileiros em São Francisco, etc. Vá aos eventos comunitários. Faça aquele esforço extra para se integrar às comunidades. Vale a pena.

  • 5 Coisas que Você Deve Saber ao Alugar um Imóvel (Bay Area)

    5 Coisas que Você Deve Saber ao Alugar um Imóvel (Bay Area)

    por Cristiane Eissmann

    O processo de aluguel na Bay Area é diferente de muitas partes dos Estados Unidos, porém é um processo fácil onde você é encorajado a fazer sozinho.

    Antes de iniciar o processo ou sair assinando o contrato de aluguel, procure se informar. Os contratos aqui, são em sua maioria, de 12 meses e se você precisar quebrar o contrato você terá que pagar multa. Fique atento!

    Nesse post vamos discutir 5 coisas que você deveria saber ao alugar um imóvel, coisas simples mas que confundem muitas pessoas.

    1. Você não precisa dos serviços de um Corretor de Imóveis –  Existem poucos corretores de imóveis que trabalham com aluguel aqui na Bay Area e a razão é porque aqui é diferente de outras partes dos EUA. Aqui na Bay Area, você não precisa de um corretor de imóveis para te ajudar a achar um lugar para alugar. Você pode fazer todo o processo sozinho. Você terá que fazer as pesquisas e entrar em contato com o leasing office ou empresas de property management, essas empresas cuidam de propriedades disponíveis no mercado para alugar.

    Honestamente, ao corretor é pago uma pequena comissão quando você assina o contrato de aluguel na casa que ele te indicou (às vezes essa comissão é de $1, sim, apenas um dólar). E essa pequena comissão é garantida somente por proprietários que listam suas casas no “Multiple Listing Service” (MLS), sistema que, nós corretores, temos acesso. Ou seja, para todas as outras propriedades que você encontra nos diferentes sites, o pagamento do corretor não é garantido. O sistema é feito para que você não precise dos serviços de um corretor de imóveis para achar um lugar para você alugar.

    2. Sim, o preço é o que você está vendo – Devido a alta procura e baixo inventário, a Bay Area se tornou um dos lugares mais caros de se viver nos EUA. Não é anormal você achar um apartamento de 1 quarto por $2 mil dólares ou mais. Dica: Se soar muito barato tem uma grande chance de ser “scam”!

    3. Saiba dos seus direitos – As leis de inquilinos na Califórnia são muito liberais a favor do inquilino. Você pode visitar California’s Department of Consumer Affairs” para saber mais dos seus direitos ou entre em contato com “Bar Association”, é uma associação formada por advogados e você pode pedir para conversar com um que seja especializado em leis de inquilinos e esclarecer suas dúvidas.

    4. Onde procurar? – Têm muitos sites que você pode usar quando procurar por aluguel: Rental.com, Realtor.com, Hotpads.com, Trulia & Zillow, Mlslistings.com etc. Recomendo sempre verificar em mais de um site porque infelizmente eles não são atualizados diariamente.
    Temos também o Craigslist, mas fique atento, como todo mundo pode postar no craigslist, sempre use seu bom senso e não marque de visitar casas com ninguém, não faça nenhum depósito antes de ver pessoalmente, e não dê sua informação pessoal. Eu conheço pessoas que sempre acharam seus “roommates” pelo craigslist, é possível achar coisa boa mas sempre fique atento.

    Lembre-se: O inquilino não pode repassar o ”lease” dele para outra pessoa sem a aprovação do “leasing office” (na verdade a maioria dos leasing offices nem aceitam esse repasse que chamamos de sublease). Ou seja, se alguém te falar que passará uns meses fora a trabalho e está procurando alguém para ficar no seu apartamento durante aquele período, é scam (por sinal um dos mais comuns no craigslist).

    5. Os detalhes são importantes – Têm muitos detalhes pequenos para se descobrir antes de você assinar o contrato: Qual é o tempo de duração do contrato? O que acontece se você quebrá-lo? Você pode ter animais? Quantos e quão grande? Você pode mudar a aparência da casa? Pintar por exemplo, e se mudar quais serão as consequências quando você sair? Que tipo de depósito será cobrado de você? O que está incluído no seu contrato de aluguel, no valor que você está pagando? Como funciona os consertos/reparos? Quem cuida, quem paga? Reparos de emergência, qual o procedimento? Como é o estacionamento? Para quantos carros? Quais são as regras para visitantes? Visitas de um dia, de uma semana, de um mês. Acredite, descobrir que você não pode trazer seu animal de estimação depois que você já assinou o contrato não é algo legal.


    Cristiane Eissmann é Catarinense, nascida em Blumenau. Casada, sem filhos. Saiu do Brasil em 2007, se mudou para o Vale em 2014. Pedagoga de formação acadêmica, trabalhou como professora e diretora por 14 anos. Atualmente trabalha como Corretora de Imóveis ajudando famílias com compras e vendas de imóvies na Bay area. Adora fazer trilha, acampar, conhecer pessoas e lugares novos.
  • May Aguiar

    May Aguiar

     

    May Aguiar, uma brasileira que decidiu buscar ajuda de uma organização que faz a diferença na vida dos imigrantes que querem voltar ao mercado de trabalho. Conheça mais sobre a sua hstória e sua inserção no mercado de trabalho nos EUA.

    O que levou à mudança para os EUA? E como você se preparou para essa mudança?


    Acho que sempre tive vontade de conhecer o mundo. Lembro que desde criança falava para as pessoas que quando crescesse queria viajar. Minha mãe brincava que eu não via a hora de abandoná-la. Acho que essa curiosidade, acima de qualquer outra coisa, foi o que me trouxe pra cá. Eu queria muito  fazer um intercâmbio, mas minha familia não tinha condições de me ajudar a estudar fora. Então, ainda enquanto estudante, eu comecei a pesquisar opções de intercâmbio e descobri o programa de “Au Pair”. A ideia inicial era ir pra Europa. Eu tinha um preconceito enorme com os EUA e achava que as pessoas aqui seriam rudes, mas vir pra cá foi a oportunidade que surgiu e resolvi embarcar.
 Quanto a peparação, eu começei a aprender inglês cedo, com 12 anos. A minha escola (pública) oferecia um programa de línguas maravilhoso, bem parecido com o ESL do City College aqui. Eu estudei inglês por 8 anos antes da mudança. Apesar da língua ter sido uma barreira não foi um desafio tão assustador. Acho que o que me exigiu maior preparo foi o lado emocional. Me despedir dos amigos, me desvincular do trabalho, e principalmente batalhar com a ideia  de que eu iria pra outro país para cuidar de criança.

    Depois que você está aqui você vê o quanto esse pensamento de sub-emprego é errôneo e bobo, mas acho que no Brasil ainda temos muito preconceito, e lembro que esse era o meu maior drama enquanto me preparava para a grande mudança.

    O que foi parecido e o que foi diferente da sua expectativa?


    Todas as minhas expectativas foram e continuam sendo superadas desde que cheguei aqui. Pensei que americanos seriam rudes e secos, mas encontrei pessoas amorosas e fantásticas. Adoro a forma como as pessoas interagem, se preocupando com o seu bem-estar e te fazendo se sentir bem-vinda. Acho que eu tinha um estereótipo da America, e a Bay Area foi a mostra perfeita de que a America não é só o que se vê em Hollywood. Eu não esperava tamanha diversidade e ainda hoje me maravilho com essa mistura de culturas que temos aqui.

    O que você gostaria que você soubesse antes de se mudar?

    Que esse é um lugar cheio de oportunidades para quem não tem medo e se esforça. Que existem pessoas e organizações dispostas a te ajudar, e ainda inúmeros recursos que auxiliam a alcançar seus objetivos.

    Como foi a preparação para a busca do seu primeiro emprego?

    Eu fui “Au Pair” por 2 anos e trabalhei como babá por outros dois. Eu amo crianças, mas esse nunca foi o meu objetivo de vida e eu sentia que estava estagnada e precisava sair da zona de conforto. Eu começei a procurar formas de voltar a estudar, porém não era bem esse o meu objetivo. Eu queria trabalhar em algo que me motivasse, mas não achava que conseguiria um bom emprego e tinha medo de como um novo trabalho (certamente em um cargo entry-level) me afetaria financeiramente. Em uma das minha muitas buscas por histórias inspiradoras eu vi um post no Facebook sobre a Upwardly Global e decidi me inscrever. Eu enviei minhas informações numa noite e na manhã seguinte já me retornaram marcando uma entrevista. Eles se demonstraram tão empolgados com a minha experiência e as possibilidades que me aguardavam que aquilo me animou. Um mês depois de me registrar na Upglo decidi pedir demissão do trabalho de nanny e me dedicar a encontrar uma carreira no meu campo de interesse em tempo integral.

    O que fez vc procurar a Upwardly Global e quão importante foi ter esse tipo de apoio?


    Procurei eles porque queria “guidance”. O mercado de trabalho aqui é diferente e eu não entendia bem por onde começar. Logo que comecei a trabalhar com eles fizemos uma nova leitura do meu currículo. Isso foi fundamental pra mim. Eu não tinha reparado quanta experiência eu tinha até refazer meu currículo com a ajuda da minha coach. Ela me fez entender que eu não deveria subestimar meu “background” ou experiências passadas, e que toda a experiência que eu tinha era válida. Eu lia meu curriculo e sentia um orgulho tamanho das minhas conquistas. Isso me gerou muita confiança. O que eu acho bacana da Upglo é que eles me mostraram que eu não deveria me subestimar e acreditar ser uma profissional menos valorizada só porque tenho um sotaque. A Upglo me desafiou a parar de agir como se eu não fosse boa o suficiente. Lembro que não queria aplicar para várias posições por não me achar capaz, e minha coach me incentivava e mostrava que minha experiência combinava com o perfil que as empresas procuravam. Se dependesse de mim, eu só teria buscado posições de entry-level.

    Em que você trabalha hoje e como o Upwardly Global ajudou você?

    Sou office manager e assistente executiva para o CEO de uma non-profit em San Francisco. A Upglo me ajudou durante todo o processo, desde revisar minha carta de apresentação até treinar perguntas para a entrevista. Acho que uma coisa importante de se mencionar é que a UpGlo é um recurso maravilhoso, mas é você é determina o quanto vai usar desse recurso. O seu sucesso depende muito mais do seu esforço do que da organização. São muitas horas pesquisando e enviando currículos, fazendo networking, e buscando oportunidades. A UpGlo te mostra o que fazer, mas depende de cada indivíduo como aplicar o aprendizado.

    Você pensou em desistir em algum momento? Por quê?

    Entre pedir demissão e conseguir o meu trabalho atual eu demorei quase quatro meses. O começo da busca é excitante mas um pouco desencorajador, você passa horas enviando currículos e escrevendo cartas de apresentação e não recebe respostas por que o recruitment process aqui é um pouco demorado. E outra coisa, procurar emprego requer prática. A minha primeira entrevista foi uma vergonha. Dei respostas evasivas, não falava com confiança, não tinha segurança nas respostas. Para ter sucesso em uma entrevista requer tempo e prática, e tempo é algo que quem precisa de emprego não tem. Fiz várias entrevistas mal sucedidas antes de me sentir realmente preparada e começar a ver resultados. Mas no final do processo tive a sensação de que poderia conseguir o emprego que quisesse apenas baseado em como me comportava na entrevista.

    O que você acha que aprendeu com essa experiência?

    Que eu preciso acreditar em mim e tentar. Mesmo se a voz chata dentro da minha cabeça estiver dizendo que não sou capaz ou que estou dando um passo maior que a perna.

    Aprendi que no lugar do medo devo dar espaço para as oportunidades, e devo me esforçar e dar meu melhor antes de dizer que algo não vai dar certo ou que é difícil.

    Você teve algum mentor? Alguém te inspirou e/ou orientou?

    Tive uma coach, mas o que realmente me inspirou foi escutar histórias de outros imigrantes que conseguiram encontrar uma colocação. Saber que outras pessoas estavam passando pelas mesmas dificuldades e frustrações foi um alívio. Você percebe que não é a única, e quando vê alguém se sair bem pensa que logo será a sua vez também.

    Qual o momento mais marcante da sua jornada?

    Depois de dois meses procurando emprego comecei um estágio em uma organização chamada Pachamama Alliance. Foi a minha primeira experiência em um office depois de anos trabalhando como nanny, mas mesmo assim, no meu primeiro dia me senti como se sempre tivesse feito aquilo. Não estava recebendo, não tinha promessas de emprego no final, mas estava com uma motivação fora do comum. Acho que nunca me doei tanto para um trabalho como fiz nesse estágio, e sei que esse foi um momento essencial pra mim pois me fez perceber que trabalhar nessa área era realmente o que eu queria, e que eu precisava continuar tentando.

    Quais são os seus planos para os próximos anos?

    Trabalho, trabalho e trabalho! Estou trabalhando em um projeto super empolgante que tem tudo para fazer de San Francisco um lugar ainda mais maravilhoso. A cada dia me sinto mais atraída pelo que faço e quero dar o meu melhor pra ver esse projeto acontecer. Em algum ponto no futuro quero viajar. Ainda tenho vontade de rodar o mundo e romper mais estereótipos. Também quero me desenvolver pessoalmente e profissionalmente e gostaria de voltar a estudar e buscar um mestrado na minha área, mas isso vai esperar um pouco.

    Qual sua dica pra quem está começando a trilhar esse mesmo caminho?


    Tente! Varias pessoas me diziam que eu era capaz e eu não acreditava. Eu pensava: Ah! Você acha que tudo é fácil mas não faz idéia de como é complicado ser imigrante. Eu usei várias desculpas pra não tentar: meu nível de inglês, meu sotaque, estar fora do mercado de trabalho a muito tempo, questão financeira…
Todas essas razões eram reais, mas eram usadas para  encobrir meu medo de tentar e falhar.

    Quando eu deixei as desculpas de lado e me dispus a tentar, as coisas começaram a acontecer.

    Eu ainda tenho um sotaque, meu inglês não é perfeito, e eu sei que tenho muito o que crescer, mas nada disso me impediu de conseguir um emprego na área que queria!