Categoria: Sua História

  • May Aguiar

    May Aguiar

     

    May Aguiar, uma brasileira que decidiu buscar ajuda de uma organização que faz a diferença na vida dos imigrantes que querem voltar ao mercado de trabalho. Conheça mais sobre a sua hstória e sua inserção no mercado de trabalho nos EUA.

    O que levou à mudança para os EUA? E como você se preparou para essa mudança?


    Acho que sempre tive vontade de conhecer o mundo. Lembro que desde criança falava para as pessoas que quando crescesse queria viajar. Minha mãe brincava que eu não via a hora de abandoná-la. Acho que essa curiosidade, acima de qualquer outra coisa, foi o que me trouxe pra cá. Eu queria muito  fazer um intercâmbio, mas minha familia não tinha condições de me ajudar a estudar fora. Então, ainda enquanto estudante, eu comecei a pesquisar opções de intercâmbio e descobri o programa de “Au Pair”. A ideia inicial era ir pra Europa. Eu tinha um preconceito enorme com os EUA e achava que as pessoas aqui seriam rudes, mas vir pra cá foi a oportunidade que surgiu e resolvi embarcar.
 Quanto a peparação, eu começei a aprender inglês cedo, com 12 anos. A minha escola (pública) oferecia um programa de línguas maravilhoso, bem parecido com o ESL do City College aqui. Eu estudei inglês por 8 anos antes da mudança. Apesar da língua ter sido uma barreira não foi um desafio tão assustador. Acho que o que me exigiu maior preparo foi o lado emocional. Me despedir dos amigos, me desvincular do trabalho, e principalmente batalhar com a ideia  de que eu iria pra outro país para cuidar de criança.

    Depois que você está aqui você vê o quanto esse pensamento de sub-emprego é errôneo e bobo, mas acho que no Brasil ainda temos muito preconceito, e lembro que esse era o meu maior drama enquanto me preparava para a grande mudança.

    O que foi parecido e o que foi diferente da sua expectativa?


    Todas as minhas expectativas foram e continuam sendo superadas desde que cheguei aqui. Pensei que americanos seriam rudes e secos, mas encontrei pessoas amorosas e fantásticas. Adoro a forma como as pessoas interagem, se preocupando com o seu bem-estar e te fazendo se sentir bem-vinda. Acho que eu tinha um estereótipo da America, e a Bay Area foi a mostra perfeita de que a America não é só o que se vê em Hollywood. Eu não esperava tamanha diversidade e ainda hoje me maravilho com essa mistura de culturas que temos aqui.

    O que você gostaria que você soubesse antes de se mudar?

    Que esse é um lugar cheio de oportunidades para quem não tem medo e se esforça. Que existem pessoas e organizações dispostas a te ajudar, e ainda inúmeros recursos que auxiliam a alcançar seus objetivos.

    Como foi a preparação para a busca do seu primeiro emprego?

    Eu fui “Au Pair” por 2 anos e trabalhei como babá por outros dois. Eu amo crianças, mas esse nunca foi o meu objetivo de vida e eu sentia que estava estagnada e precisava sair da zona de conforto. Eu começei a procurar formas de voltar a estudar, porém não era bem esse o meu objetivo. Eu queria trabalhar em algo que me motivasse, mas não achava que conseguiria um bom emprego e tinha medo de como um novo trabalho (certamente em um cargo entry-level) me afetaria financeiramente. Em uma das minha muitas buscas por histórias inspiradoras eu vi um post no Facebook sobre a Upwardly Global e decidi me inscrever. Eu enviei minhas informações numa noite e na manhã seguinte já me retornaram marcando uma entrevista. Eles se demonstraram tão empolgados com a minha experiência e as possibilidades que me aguardavam que aquilo me animou. Um mês depois de me registrar na Upglo decidi pedir demissão do trabalho de nanny e me dedicar a encontrar uma carreira no meu campo de interesse em tempo integral.

    O que fez vc procurar a Upwardly Global e quão importante foi ter esse tipo de apoio?


    Procurei eles porque queria “guidance”. O mercado de trabalho aqui é diferente e eu não entendia bem por onde começar. Logo que comecei a trabalhar com eles fizemos uma nova leitura do meu currículo. Isso foi fundamental pra mim. Eu não tinha reparado quanta experiência eu tinha até refazer meu currículo com a ajuda da minha coach. Ela me fez entender que eu não deveria subestimar meu “background” ou experiências passadas, e que toda a experiência que eu tinha era válida. Eu lia meu curriculo e sentia um orgulho tamanho das minhas conquistas. Isso me gerou muita confiança. O que eu acho bacana da Upglo é que eles me mostraram que eu não deveria me subestimar e acreditar ser uma profissional menos valorizada só porque tenho um sotaque. A Upglo me desafiou a parar de agir como se eu não fosse boa o suficiente. Lembro que não queria aplicar para várias posições por não me achar capaz, e minha coach me incentivava e mostrava que minha experiência combinava com o perfil que as empresas procuravam. Se dependesse de mim, eu só teria buscado posições de entry-level.

    Em que você trabalha hoje e como o Upwardly Global ajudou você?

    Sou office manager e assistente executiva para o CEO de uma non-profit em San Francisco. A Upglo me ajudou durante todo o processo, desde revisar minha carta de apresentação até treinar perguntas para a entrevista. Acho que uma coisa importante de se mencionar é que a UpGlo é um recurso maravilhoso, mas é você é determina o quanto vai usar desse recurso. O seu sucesso depende muito mais do seu esforço do que da organização. São muitas horas pesquisando e enviando currículos, fazendo networking, e buscando oportunidades. A UpGlo te mostra o que fazer, mas depende de cada indivíduo como aplicar o aprendizado.

    Você pensou em desistir em algum momento? Por quê?

    Entre pedir demissão e conseguir o meu trabalho atual eu demorei quase quatro meses. O começo da busca é excitante mas um pouco desencorajador, você passa horas enviando currículos e escrevendo cartas de apresentação e não recebe respostas por que o recruitment process aqui é um pouco demorado. E outra coisa, procurar emprego requer prática. A minha primeira entrevista foi uma vergonha. Dei respostas evasivas, não falava com confiança, não tinha segurança nas respostas. Para ter sucesso em uma entrevista requer tempo e prática, e tempo é algo que quem precisa de emprego não tem. Fiz várias entrevistas mal sucedidas antes de me sentir realmente preparada e começar a ver resultados. Mas no final do processo tive a sensação de que poderia conseguir o emprego que quisesse apenas baseado em como me comportava na entrevista.

    O que você acha que aprendeu com essa experiência?

    Que eu preciso acreditar em mim e tentar. Mesmo se a voz chata dentro da minha cabeça estiver dizendo que não sou capaz ou que estou dando um passo maior que a perna.

    Aprendi que no lugar do medo devo dar espaço para as oportunidades, e devo me esforçar e dar meu melhor antes de dizer que algo não vai dar certo ou que é difícil.

    Você teve algum mentor? Alguém te inspirou e/ou orientou?

    Tive uma coach, mas o que realmente me inspirou foi escutar histórias de outros imigrantes que conseguiram encontrar uma colocação. Saber que outras pessoas estavam passando pelas mesmas dificuldades e frustrações foi um alívio. Você percebe que não é a única, e quando vê alguém se sair bem pensa que logo será a sua vez também.

    Qual o momento mais marcante da sua jornada?

    Depois de dois meses procurando emprego comecei um estágio em uma organização chamada Pachamama Alliance. Foi a minha primeira experiência em um office depois de anos trabalhando como nanny, mas mesmo assim, no meu primeiro dia me senti como se sempre tivesse feito aquilo. Não estava recebendo, não tinha promessas de emprego no final, mas estava com uma motivação fora do comum. Acho que nunca me doei tanto para um trabalho como fiz nesse estágio, e sei que esse foi um momento essencial pra mim pois me fez perceber que trabalhar nessa área era realmente o que eu queria, e que eu precisava continuar tentando.

    Quais são os seus planos para os próximos anos?

    Trabalho, trabalho e trabalho! Estou trabalhando em um projeto super empolgante que tem tudo para fazer de San Francisco um lugar ainda mais maravilhoso. A cada dia me sinto mais atraída pelo que faço e quero dar o meu melhor pra ver esse projeto acontecer. Em algum ponto no futuro quero viajar. Ainda tenho vontade de rodar o mundo e romper mais estereótipos. Também quero me desenvolver pessoalmente e profissionalmente e gostaria de voltar a estudar e buscar um mestrado na minha área, mas isso vai esperar um pouco.

    Qual sua dica pra quem está começando a trilhar esse mesmo caminho?


    Tente! Varias pessoas me diziam que eu era capaz e eu não acreditava. Eu pensava: Ah! Você acha que tudo é fácil mas não faz idéia de como é complicado ser imigrante. Eu usei várias desculpas pra não tentar: meu nível de inglês, meu sotaque, estar fora do mercado de trabalho a muito tempo, questão financeira…
Todas essas razões eram reais, mas eram usadas para  encobrir meu medo de tentar e falhar.

    Quando eu deixei as desculpas de lado e me dispus a tentar, as coisas começaram a acontecer.

    Eu ainda tenho um sotaque, meu inglês não é perfeito, e eu sei que tenho muito o que crescer, mas nada disso me impediu de conseguir um emprego na área que queria!

  • Tatiana Dutraemello – BRAVE Sua História

    Tatiana Dutraemello – BRAVE Sua História

     

    Foto Tatiana Dutra e MelloBuscamos sempre compartilhar histórias de Brasileiras talentosas que estão fazendo a diferença aqui na Bay Area e nos EUA. Tatiana Dutra e Melo é do Rio de Janeiro, designer e uma das coordenadoras do Projeto Contadores de Estórias, que acontece na Bay Area. Apaixonada pelo projeto e pelo desafio de manter a identidade cultural dos brasileirinhos do Vale, ela conta aqui um pouco de seus sonhos, desafios e trajetória.


    Como era sua vida no Brasil?

    Nunca gostei da desigualdade econômica, do preconceito racial e social e dos políticos cheios de promessas do Brasil, mas levava uma vida relativamente confortável. Tinha casa, comida, roupa lavada e minha própria empresa com uma sócia que por acaso era (ainda é) uma amiga querida. O Brasil, na minha cabeça, era díficil, mas não intolerável. Hoje em dia ainda amo o Brasil, e mais ainda as pessoas que deixei lá, mas cheguei a conclusão de que a vida lá está mais complicada do que quando saí de lá, infelizmente.

    O que levou a sua mudança para os EUA e quando foi?

    Cheguei nos EUA em 2001 por causa do trabalho de meu marido, após viver no Canadá por seis anos.

    Quais foram as suas primeiras impressões sobre os EUA?

    Gostei da diversidade cultural do país—já tinha visto algo semelhante no Canadá—mas aqui há uma abundância de grupos populacionais, de paisagens, de pontos de vista—achei tudo fascinante.

    O que você gostaria que você soubesse antes de se mudar?

    Que o tempo passa mesmo, e que é importante aproveitar cada minuto da vida. No Brasil eu tinha isso como princípio, mas a falta de perspectiva me fazia pensar que no fundo não fazia muita diferença fazer algo hoje ou amanhã.

    Quais foram os seus maiores desafios?

    Entender a cultura e os hábitos locais, a logística das coisas, como fazer para iniciar uma rotina de vida… Enfim, aprender a ter uma vida com algum controle, e acreditar que o governo vai te respeitar, que você tem direitos e desafios e que precisa fazer sua parte sim.

    O que você aprendeu com essa experiência?

    Aprendi que tenho medo de poucas coisas na vida e que sou forte para recomeçar toda vez que for necessário. E mais: que de vez em quando é bom mesmo dar uma baita mudada!

    Você teve algum mentor? Alguém te inspirou e orientou?

    Ninguém em especial…e muita gente em geral! Aprendemos com cada pessoa nova que conhecemos, com cada situação que vivemos, com cada mudança…fico muito atenta a tudo e a todos… Acho que como imigrantes somos mais atentos até por uma questão de sobrevivência…pelo menos comigo é assim, tento aprender com tudo. Além dessa observação constante do que está ao meu redor aprendi também a olhar para dentro de mim mesma com mais frequência e a me “ouvir”, a seguir mais as minhas intuições.

    Você tem alguma história, algum exemplo memorável, algum fato marcante nessa sua jornada nos EUA?

    Os exemplos são quase que diários. Já tive ajuda de quem mal conhecia, fiz amizades com pessoas bacanérrimas, tenho vivido experiências enriquecedoras. Enfim, tenho aprendido muito! A experiência de viver fora e conhecer outras culturas é algo que todo ser humano deveria poder experimentar.

    Conte um pouco do “Projeto Contadores de Histórias”

    Eu tinha mudado recentemente para a Bay Area e vi no jornalzinho da comunidade brasileira o anúncio do Contadores. Minha filha tinha na época três anos, e eu estava tentando consolidar o português dela para que não se tornasse uma língua fraca. Fomos ao nosso primeiro evento em Berkeley em outubro de 2005 e adoramos. A coordenadora do Projeto, Suzanne Brito, – vice-cônsul do Consulado do Brasil em San Francisco – fazia um trabalho maravilhoso que engajava adultos e crianças a cada evento. Era uma diversão só. Ao final daquela primeira tarde em Berkeley me ofereci como voluntária, comecei a colaborar, e o resto é história! Atualmente coordeno o Projeto com Ronaldo Penner e temos um grupo de colaboradores que ajuda tremendamente!

    O Projeto Contadores de Estórias começou em 2003 por iniciativa da vice-cônsul Ligia Verdi, que queria criar eventos culturais em português para as crianças da Bay Area. Ao longo de sua história o PCE passou por vários locais e teve diversos membros/diretores membros da comunidade brasileira na Bay Area – e sempre teve o mesmo foco em língua e cultura para os brasileirinhos. Desde o início de sua criação os eventos do Contadores seguem um programa bem definido: lemos estórias para as crianças, dançamos, cantamos, pintamos, colorimos…sempre em português, sempre com foco em temas bem brasileiros (Descobrimento do Brasil, carnaval, Dia da Páscoa, festa junina, etc).

    Nossa festa junina, por exemplo, é famosa e é para a família inteira. Tem casamento na roça, quadrilha, comidinhas brasileiras, brincadeiras…é sempre uma diversão! Já na Páscoa, recebemos a visita do coelhinho da Páscoa…até ele vem para participar do Contadores!

    Como você acha que o Contadores influencia a educação e a absorção da cultura brasileira das crianças no Vale?

    Iniciativas como as do projeto Contadores ajudam a dar a nossas crianças um pouco da dimensão da cultura e língua do Brasil. Crianças imigrantes merecem ter contato com suas raízes e ter orgulho de sua história. Os brasileiros, em geral, são calorosos e apreciam o convívio social.

    Nossas crianças, ao conviverem com outros brasileiros pequenos e adultos aprendem que somos muitos espalhados pelo mundo e que podemos conviver de forma harmoniosa.

    O PCE é uma forma de construirmos nossa comunidade aos poucos, de baixo para cima, com perseverança e disposição para passar para as gerações futuras o lado muito bom do que é ser brasileiro.

    Como as pessoas interessadas podem organizar um Contadores em sua área?

    Além do nosso Projeto Contadores de Estórias original daqui da Bay Area temos outros Contadores de Estórias em Nova Iorque, na Flórida e no norte da Califórnia. Interessados em iniciar novos programas devem entrar em contato conosco através do email web@contadores-de-estorias.org.

    Como as pessoas podem ajudar o projeto?

    Somos todos voluntários e organizamos o Contadores com carinho e dedicação – sem nenhuma compensação financeira. Precisamos sempre de voluntários durante os eventos para ajudar nas atividades. E quem quiser se juntar ao nosso Projeto CE como voluntário permanente é bem-vindo também, claro!

    Qual a sua dica pra quem está começando a trilhar esse mesmo caminho de criar um projeto?

    Defina seus objetivos claramente e pesquise seu público antes de mais nada. É importante ter certeza de que seus eventos terão massa crítica, e de que seu programa atenderá as expectativas do público.

    Quais são os seus planos para o futuro?

    Dar continuidade ao Projeto Contadores, trazer mais Brasil para os brasileirinhos daqui, ouvir e ler mais estórias, conversar em português, manter nossa língua e culturas vivas entre os membros da comunidade ‘brasuca’ na Bay Area!!! Muito obrigada Brasileiras do Vale pela oportunidade de contar para vocês sobre um pouco do que fazemos no Contadores!

    Participe do próximo Contadores de Estórias!

    E conheça mais sobre o Projeto Contadores de Histórias:
    https://www.facebook.com/contadoresdehistoriasUSA/

  • Erika Balassiano – Conheça os desafios e a trajetória da Médica Obstetra e Ginecologista – BRAVE Sua História

    Erika Balassiano – Conheça os desafios e a trajetória da Médica Obstetra e Ginecologista – BRAVE Sua História

    Queremos sempre compartilhar histórias de Brasileiras talentosas que fazem a diferença aqui na Bay Area. A Erika é uma dessas mulheres. Natural do Rio de Janeiro, onde graduou-se em Medicina pela UFRJ, se mudou para os EUA para fazer sua residência médica e agora, depois de terminar o Fellowship em Stanford, está atendendo mulheres no  El Camino Women’s Medical Group. Conheça os desafios e a trajetória da Médica Obstetra e Ginecologista Erika OB/GYN!


     

    Como era sua vida no Brasil?

    Minha vida no Brasil era super agitada! Me mudei para os EUA em 2009 quando vim fazer residência médica em Ginecologia e Obstetrícia em Nova York. Até então, fazia faculdade de Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF/ RJ), pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), aulas de conversação em inglês aos finais de semana e ainda estava estudando para as provas de validação de diploma aqui. Ufa! Sorte que não precisava de muito tempo para o namorado, que já morava nos EUA.

    O que levou à mudança para os EUA? E como você se preparou para essa mudança?

    O principal motivo que me trouxe aos EUA foi pessoal. Já namorava a distância há 8 anos e estávamos planejando casar. Íamos morar nos EUA ou no Brasil. Terminar com a relação à distância era nossa prioridade. Mas a vida profissional precisava caminhar junto com a pessoal. Seria muito difícil mudar minha carreira e meus sonhos. A faculdade de medicina em si foi uma jornada. Resolvi então tentar aplicar pra residência aqui e, se não desse certo, o plano B seria morarmos no Brasil e fazer residência lá mesmo.

    A principal preparação que precisei fazer para essa mudança foi validar meu diploma de médica e conseguir uma vaga na residência. A validação de diploma de medicina é um processo muito longo e complicado. São três provas: duas teóricas em frente ao computador (8h cada, incluindo 1h de intervalo) e uma prova prática de 7-8h (sem intervalo!) onde você examina pacientes que na verdade são atores. A prova é filmada o tempo todo e são médicos que assistem e dão a nota. É ate interessante depois que voce já passou por esse nervosismo todo (lógico).

    Depois de ter meu diploma validado, enviei meu currículo, cartas de recomendação e notas das provas de validação para cerca de 50 hospitais nos EUA inteiro (não dá para ser muito exigente nessa hora!). Fui convidada para 10 entrevistas com diretores e médicos desses hospitais. Fiz então um “ranking” em ordem de preferência para os hospitais que gostaria de trabalhar. Os hospitais fazem a mesma coisa com os candidatos e essas duas listas são cruzadas em um programa de computador chamado “MATCH”. Todos os médicos, americanos e estrangeiros, passam pelo mesmo processo quando querem uma vaga na residência e a concorrência é de igual para igual.
    Diferentemente do Brasil que, passando no processo, você só consegue uma vaga no país inteiro. Se não quiser, tem que abrir mão da vaga e tentar novamente no próximo ano. Me sinto muito privilegiada de ter passado por todo o processo e ter sido “matched” na minha primeira opção, onde eu e meu noivo, na época, tínhamos boas oportunidades de trabalho.

     

    O que foi parecido e o que foi diferente da sua expectativa?

    A dificuldade de sair da casa dos pais, casar e morar fora do seu país longe da família foi um pouco mais difícil do que eu esperava. A residência médica nos EUA é muito puxada (100 horas de trabalho por semana) e você é tratado como escravo. Lembro que chorava quase que todos os dias no primeiro ano, quando chegava em casa depois de quase 30 horas de plantão, depois de ter ouvido muito desaforo, sem dormir (não existe rodízio de plantonistas aqui, pelo menos para residentes) e sem encontrar meu marido em casa, que obviamente já tinha ido trabalhar (foram 4 anos assim, um ano a mais que a residência no Brasil).

    O que foi bem diferente do que eu esperava foi que, apesar das dificuldades, consegui fazer alguns amigos na residência que foram essenciais na minha jornada. Estávamos passando pela mesma situação e, apesar das nossas diferentes origens, conseguimos nos apoiar e seguir em frente quando muitas vezes pensávamos em desistir. Isso foi muito importante, pois eu convivia mais com essas pessoas do que com meu próprio marido naquela época.

    O que você gostaria que você soubesse antes de se mudar?

    Se eu soubesse que os meus primeiros anos aqui seriam difíceis profissionalmente, de repente eu estaria mais preparada psicologicamente ou não. É dificil saber… Acredito que estar longe de casa é dificil pra todo mundo e para certas coisas não tem mesmo como a gente se preparar.

    Quais foram os seus maiores desafios?

    Com certeza foi passar pelos primeiros dois anos da residência. Toda a adaptação de morar nos EUA, estar longe da família e também do meu marido, que era a única família que eu tinha aqui, mais a carga horária super pesada e exigente, os preconceitos… enfim! É uma grande lista!

    O que você acha que aprendeu com essa experiência?

    Eu aprendi que tudo nessa vida é possivel e você só precisa de foco e determinação (além de um imenso suporte emocional que foi essencial, não posso negar). Nunca acredite que você não é capaz! Todos nós somos capazes de atingir nossos sonhos se lutarmos por ele de verdade.

     

    Você teve algum mentor? Alguém te inspirou e/ou orientou?

    Duas pessoas que muito me inspiraram foram dois professores da faculdade que também tinham feito residência médica nos EUA e voltaram a morar no Brasil. Os dois me contavam histórias da residência e da vida aqui e encheram meu coração de sonhos.

    Qual o momento mais marcante da sua jornada?

    O que mais me marcou, e que ainda lembro como se fosse hoje, foi acordar meu marido para irmos nós dois, às 4h da manhã, escavar e desenterrar meu carro da neve, pois ele estava soterrado e eu tinha que estar no hospital às 5:30 da manhã… Também me lembro bem do dia em que estava de plantão no meu aniversário e ganhei 8 bolos de diferentes pacientes quando fiz o parto de seus bebês. O hospital todo comeu bolo naquele dia!

    Como é seu trabalho hoje?

    Não satisfeita com meus quatro anos de residência, ainda resolvi fazer mais dois anos de “fellowship” Cirurgia Minimamente Invasiva na Universidade de Stanford e foi quando nos mudamos para a Califórnia. Hoje fui contratada para trabalhar como médica e cirurgiã em Obstetrícia e Ginecologia no El Camino Hospital, em Mountain View.

    Quais são os seus planos?

    Eu desejo poder exercer tudo o que eu aprendi e assim ser capaz de ajudar muitas mulheres. A Ginecologia/Obstetrícia é uma área incrível onde você tem o privilégio de acompanhar a paciente a vida inteira, desde a adolescência com todos os seus questionamentos, passando pelo momento talvez mais importante de nossas vidas – o nascimento dos filhos – até a maturidade. É realmente uma honra ser escolhida pra fazer parte da vida de uma pessoa dessa forma.

    Qual a sua dica pra quem está começando a trilhar esse mesmo caminho?

    Primeiramente: não desista! Você é capaz! Confie nisso.

    Busque a maior quantidade de informações possível antes de iniciar o processo. Seja por meio das pessoas que já passaram por isso, como também por blogs e comunidades virtuais. Muitas coisas não são explicitamente ditas nos meios formais das organizações que comandam a validação.

    Outra coisa que foi essencial pra mim foi cursar algumas matérias do internato eletivo da faculdade nos EUA. Não apenas consegui ótimas cartas de recomendação, como vivi nos EUA por alguns meses e pude ter certeza que era isso mesmo que eu queria.