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  • Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA: Emergências

    Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA: Emergências

    Por Mariana Kishimoto*

    Nas primeiras partes desta série de artigos sobre o sistema de saúde americano, expliquei como funcionam as instituições de saúde nas quais pacientes são hospitalizados por no mínimo 24h, as inpatient facilities, e as instituições nas quais os pacientes fazem consultas ou exames, mas não são hospitalizados, as outpatient facilities. Nesta terceira parte, explico sobre Urgent Care e Emergency Care (ou Emergency Room – ER), que também se enquadram como outpatient facilities. 

    Leia o 1o artigo

    Leia o 2o artigo

    Nós, brasileiras, estamos acostumadas com o pronto-socorro do hospital (Emergency Room) para atendimentos de emergência e não entendemos direito quais são as diferenças entre as duas facilities. Muitos débitos podem ser evitados com informação, principalmente quando dívidas médicas são o principal motivo das pessoas declararem falência (bankruptcy) nos EUA. 

    Assim como nas partes anteriores, os principais termos serão mantidos em inglês para não criar confusão. Todas as fontes pesquisadas estão no final do texto.     

    Urgent Care ou Acute Care Clinics 

    São as clínicas apropriadas às pessoas que precisam de atendimento médico em menos de 24h e não podem esperar até agendar uma consulta com o seu médico, mas não sofrem risco de morte. Geralmente, possuem emergency physicians e physician’s assistant que são treinados em emergência e saúde da família, e têm um conhecimento clínico geral, podendo tratar uma grande variedade de doenças e pacientes de todas as faixas etárias. Eles também identificam se o paciente precisa ser transferido para um ER ou um especialista. Possuem máquinas de Raio-X, materiais para exames laboratoriais básicos e equipamentos para pequenos procedimentos. O atendimento é mais rápido do que no ER e, em média, leva menos de uma hora, e em muitas clínicas o atendimento pode ser pré agendado. Não funcionam 24h por dia, mas fecham mais tarde do que um consultório médico e, normalmente, funcionam os 7 dias da semana. Não é um substituto ao tratamento preventivo com o seu physician, apenas um complemento quando necessário. 

    Dados mostram que quase um terço dos atendimentos feitos em ER poderiam ter sido feitos no UC, economizando tempo e dinheiro. Apesar da obrigatoriedade de todos os grande planos de saúde particulares oferecerem acesso a tratamento de emergência (pelo Affordable Care Act), nem todos os planos consideram Urgent Care como tal. É raro uma UC não aceitar Medicaid ou Medicare, e o valor a ser pago pelo paciente varia de acordo com a cobertura. 

    Algumas perguntas importantes antes de acessar o serviço

    Sempre confira com a clínica antes de ir se:

    • Aceitam o seu convênio, 
    • Se você será cobrada como Urgent Care ou Emergency Room, e 
    • Se as contas dos serviços serão enviadas juntas ou separadas muitas clínicas enviam contas separadas por profissionais, serviços e taxas da clínica. 

    Várias faculdades de medicina possuem Urgent Care Clinics com diversos tipos de tratamentos e opções de pagamentos acessíveis ou gratuitos. A UC da faculdade de medicina da Stanford oferece tratamento gratuito para adultos que não possuem seguro de saúde, com clínicas em San José e Menlo Park, e os alunos de medicina da Berkeley e UCSF gerenciam clínicas gratuitas com diversos serviços disponíveis. E, lembre-se que as UC são uma boa opção caso aconteça uma pequena emergência médica nas suas viagens de férias. 

    Devido à pandemia do Covid-19 muitas Urgent Care Clinics possuem agora a opção de atendimento virtual. 

    Exemplos de quando ir ao Urgent care: sintomas leves de reação alérgica, infecção urinária, picadas de insetos, leves queimaduras, diarréia, dor de ouvido, dor de garganta, gripe com leves sintomas, aplicação de vacinas e imunizações, cortes não profundos, conjuntivite, sinusite, infecções na pele, febre, torções e fraturas leves. 

    Estabelecimentos de Urgent Care:

    Cardinal Free Clinics, Stanford Medicine: http://med.stanford.edu/cfc/about.html 

    Berkeley Free Clinic: https://www.berkeleyfreeclinic.org/

    Cllínicas dos alunos da UCSF:https://clinicamb.blogspot.com/

    https://mabuhayhealthcenter.org/

    Emergency Care or Emergency Room 

    São os centros de emergência localizados nos hospitais gerais e apropriados às pessoas que precisam de atendimento médico urgente para situações graves, como acidentes e/ou correm o risco de morte. Normalmente, possuem emergency physicians (ER doctors) que são treinados em emergências e situações de alto risco. Possuem uma estrutura mais completa para fazer diagnósticos mais específicos, além de terem acesso a especialistas, como cardiologistas e ortopedistas que trabalham no hospital caso haja extrema necessidade. 

    O atendimento é mais demorado para os casos que não são graves, em média em torno de 90 minutos, pois é dada preferência aos casos mais urgentes, além da equipe médica estar sempre sobrecarregada. Funcionam 24h por dia, todos os dias da semana, e por terem mais médicos especialistas e um atendimento mais amplo, são bem mais caros do que o Urgent Care – uma diferença que pode chegar a até cinco vezes mais para o mesmo tipo de tratamento. O ER é obrigado por lei federal a prover atendimento emergencial a todos os pacientes, mesmo os que não possuam seguro  lembrando que ser obrigado a atender não significa que o atendimento será gratuito. Em geral, a conta chegará após algumas semanas a sua residência pelo correio, e pode ser separada por profissionais, serviços e taxas do ER. Até 1986, quando essa lei foi aprovada, os hospitais podiam negar atendimento emergencial aos pacientes que não tinham como pagar, prática conhecida como “patient dumping”. Convênios médicos privados, Medicare e Medicaid cobrem grande parte do atendimento, variando de acordo com cada plano. 

    Exemplos de quando ir ao Emergency Room: dor abdominal severa, sintomas severos de reação alérgica, queimadura severa, dor no peito, fraturas, tosse com sangue, corte profundo que não para de sangrar, desmaios, dificuldades para respirar, perda da visão, convulsões, lesões na cabeça, paralisia súbita dos membros, dificuldades na fala, febre com dor no pescoço e bebês menores de duas semanas com febre.    

    Obs: As indicações de quando ir ao Urgent care ou Emergency Room não se aplicam aos sintomas do Covid-19, que irei explicar com mais detalhes em uma próxima matéria.

    Ambas as instituições irão tratar APENAS a condição de saúde emergencial do paciente e não irão fazer outros exames ou check-ups não relacionados àquela condição específica! 

    *Sobre a autora convidada – Após mais de 10 anos como estilista, Mariana decidiu seguir carreira em medicina natural e nutrição integrativa para ajudar as pessoas a terem uma saúde melhor, especialmente mulheres e imigrantes. É pre-med e aluna do programa LEAP da Escola de Medicina de Stanford, que visa melhorar a saúde das comunidades locais. Para ajudar as conterrâneas a entenderem como funciona o sistema de saúde na Califórnia, Mariana lançou o blog wellposts.com, onde também dá outras dicas relacionadas a uma vida saudável.

     

    Referências:

    Where to Go for Urgent Health Needs – Healthline

    When to Go to Urgent Care vs. the ER – Self

    Trauma surgeons vs. ER doctors: What’s the difference? – Medschool UCLA

    How Much Does an Urgent Care Visit Cost? – eHealth

    Medicare and Urgent Care: What Is Covered? – Healthline

    Duty to Provide Emergency Medical Care – LawShelf

    Emergency Rooms vs. Urgent Care Centers – Debt.org

  • Happy Hour de Final de Ano – 9 de Dezembro

    Happy Hour de Final de Ano – 9 de Dezembro

    Happy Hour das BRAVEs. Nos reunimos para compartilhar nossas melhores e piores experiências de 2020!

    Diante desta montanha-russa que foi 2020, e o distanciamento social que mexeu com muitas de nós e deixou suas marcas, não podíamos deixar de fazer um happy hour virtual para termos um tempo só para nós. Um momento para nos conectarmos, trocarmos informações e nos apoiarmos.

     

     

     

    No começo do evento fizemos uma enquete e dividimos aqui com vocês:

     

     

     

  • Documentando a realidade das mulheres grávidas que vivem nas ruas da Bay Area

    Documentando a realidade das mulheres grávidas que vivem nas ruas da Bay Area

    Documentarista lança campanha de financiamento coletivo para concretizar projeto cinematográfico que lança luz aos desafios de mulheres grávidas que vivem em situação de rua.

    Ajude a realização do trabalho de documentação dessa questão urgente e comovente que afeta nossa comunidade na Bay Area. Apoie contribuindo como puder para a campanha e compartilhe em suas redes.

    A Laura Ferro nasceu na Argentina, mas sua trajetória pessoal e profissional passou por vários cantos do mundo. Chegou a morar no Brasil por 10 anos, nas cidades de Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. Durante este período, atuou na área artística, como coreógrafa e diretora de uma companhia de dança. Lá, recebeu um convite para levar o seu trabalho para Portugal, onde teve a oportunidade de dar aulas e cursos em diversos países europeus. Durante essa transição em sua carreira, Laura conheceu o seu marido, que é alemão, e, em 2013, eles decidiram se mudar para o Vale do Silício. Ao chegar por aqui, passou a fazer parte da nossa comunidade BRAVE praticamente desde sua fundação.Reprodução do documentário "Pregnant in the Street"

    Passando por diversos países e idiomas, Laura e seu marido escolheram o português como o principal idioma para se comunicarem dentro de casa, mesmo sem nenhum dos dois serem nativos na língua. O resultado disso é que, atualmente, o filho do casal – que nasceu nos Estados Unidos – é fluente em Português.

    Da criação teatral, Laura passou a se dedicar ao universo da filmagem. Hoje, ela é fundadora e diretora criativa da Rebel Monk Productions, uma produtora que cria conteúdos de vídeos para diversas empresas de tecnologia. Em paralelo, busca apoiar causas humanitárias por meio do que sabe fazer de melhor – filmar. Foi assim que começou a se dedicar à produção de documentários. 

    Em 2017, ela começou as filmagens do curta “Pregnant on the Streets” (Grávidas nas Ruas, em tradução livre), que retrata a vida de mulheres grávidas na Bay Area. São mulheres que dormem em tendas, carros ou nas ruas, e que estão passando pela difícil situação de viver sem um lar seguro. Estima-se que em San Francisco existam cerca de 200 mulheres grávidas na lista de espera por abrigos de emergência, e a intensa crise social de homelessness na Bay Area ficou ainda pior após a pandemia do Covid-19.

    Sua jornada com o “Pregnant on the Streets” começou em 2015, quando Laura estava grávida de seu filho. Assistindo ao noticiário na TV, deparou-se com a história comovente de uma mulher sem lar, dando à luz em uma parada de ônibus. O contraste de sua situação e da circunstância daquela mulher a marcou profundamente. Naquele momento, decidiu usar seu talento e linguagem para documentar e pressionar por mudanças nessa realidade. Sua experiência como diretora de coreografia na América do Sul e na Europa conferiu-lhe sensibilidade e empatia para interagir com pessoas de diferentes culturas e experiências, e foi assim que Laura começou a dirigir e produzir este filme: conectando-se com as pessoas da comunidade, independentemente de sua formação ou situação. 

    O curta narra as batalhas e vitórias pessoais de três mulheres que desejam desesperadamente sair das ruas e criar seus filhos em um ambiente seguro. É possível vivenciar intimamente suas dificuldades, seja navegando nos serviços de atendimento ou perdidas em uma névoa de problemas de saúde mental e de vício em drogas. Ao ouvir suas histórias, é possível testemunhar a luta de cada uma dessas 

    mulheres, e também as possibilidades de redenção e um futuro cheio de esperanças. 

    Reprodução do documentário "Pregnant in the Street"

    E o que veio depois disso?

    Três anos após o início do projeto, Laura decidiu voltar a filmar e mostrar os caminhos que suas vida tomaram. Realizou entrevistas adicionais com alguns dos principais especialistas neste assunto, desde um médico que trabalha com mães com vícios e problemas de saúde mental em situação de rua, até gerentes de programas para mulheres grávidas sem-teto e muito mais.

    Desde o início, a equipe que produz o documentário vem doando o seu tempo e trabalho para finalmente concretizar o projeto. Agora na fase final, lançaram uma campanha na plataforma de financiamento coletivo GoFundMe para pedir apoio para cobrir os custos restantes para a finalização e distribuição. O projeto conta ainda com a parceria da nonprofit Brave Maker, entidade que receberá e administrará o dinheiro arrecado para a produção do filme. Por ser uma 501 c (3), os doadores terão incentivo fiscal. 

    https://www.youtube.com/watch?v=xLK0a2Mao2Q&feature=youtu.be